HIV

#Primeiros sintomas do #HIV e da #AIDS

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Drª Sylvia Hinrichsen
Infectologista

Os sintomas de HIV são bastante difíceis de identificar e, por isso, a melhor forma de confirmar a infecção pelo vírus é fazendo o teste de HIV em uma clínica ou num centro de testagem e aconselhamento do HIV, especialmente se tiver acontecido algum episódio de risco, como relação sexual sem proteção camisinha ou compartilhamento de agulhas.

Em algumas pessoas os primeiros sinais e sintomas surgem algumas semanas após a infecção pelo vírus e são semelhantes aos da gripe, podendo desaparecer espontaneamente. No entanto, mesmo que os sintomas tenham desaparecido, isso não significa que o vírus tenha sido eliminado continuando assim ‘adormecido’ no organismo. Por isso, é importante que o teste de HIV seja feito após uma situação ou comportamento de risco para que seja feita a identificação do vírus e, se indicado o início do tratamento, caso necessário.

Primeiros sintomas do HIV e da AIDS

Primeiros sintomas da infecção pelo HIV

Os primeiros sintomas da infecção pelo HIV podem surgir cerca de 2 semanas após o contato com o vírus e podem ser semelhantes aos da gripe, como por exemplo:

  • Dor de cabeça;
  • Febre baixa;
  • Cansaço excessivo;
  • Ínguas (gânglios) inflamadas;
  • Garganta inflamada;
  • Dor nas articulações;
  • Aftas ou feridas na boca;
  • Suores noturnos;
  • Diarreia.

No entanto, em algumas pessoas a infecção pelo HIV não causa nenhum sinal ou sintoma, podendo essa fase assintomática durar até 10 anos. O fato de não existirem sinais ou sintomas não significa que o vírus tenha sido eliminado do corpo, mas sim de que o vírus está se multiplicando silenciosamente, afetando o funcionamento do sistema imune e posterior surgimento da AIDS.

Idealmente, o HIV deve ser diagnosticado durante a fase inicial, antes de desenvolver AIDS, pois o vírus ainda se encontra em baixa concentração no organismo, sendo mais fácil de controlar o seu desenvolvimento com medicamentos. Além disso, o diagnóstico precoce também evita que o vírus se espalhe para outras pessoas, já que a partir desse momento não se deve voltar a ter relações sexuais sem preservativos.

Primeiros sintomas do HIV e da AIDS

Principais sintomas da AIDS

Após cerca de 10 anos sem provocar qualquer tipo de sintoma, o HIV pode provocar uma síndrome conhecida como AIDS, que é caracterizada por um grande enfraquecimento do sistema imune. Quando isso acontece, voltam a surgir sintomas, que desta vez incluem:

  • Febre alta constante;
  • Suores noturnos frequentes;
  • Manchas vermelhas na pele, chamadas de Sarcoma de Kaposi;
  • Dificuldade para respirar;
  • Tosse persistente;
  • Manchas brancas na língua e boca;
  • Feridas na região genital;
  • Perda de peso;
  • Problemas de memória.

Nesta fase, é também frequente que a pessoa tenha infecções frequentes como amigdalite, candidíase e até pneumonia e, por isso, pode-se pensar no diagnóstico de infecção pelo HIV, principalmente quando surgem muita infecções frequentes e repetidas.

Quando já se desenvolveu AIDS é muito mais difícil tentar controlar o avanço da doença com medicamentos e, por isso, muitos pacientes com a síndrome acabam necessitando ficar internados para prevenir e/ou tratar as infecções que vão surgindo.

Primeiros sintomas do HIV e da AIDS

Como é feito o tratamento da AIDS

O tratamento da AIDS é feito com um coquetel de medicamentos fornecidos gratuitamente pelo governo, que podem incluir os seguintes remédios: ​Etravirina, Tipranavir, Tenofovir, Lamivudina, Efavirenz, além de outros que podem ser combinados de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde.

Eles combatem o vírus e aumentam a quantidade e qualidade das células de defesa do sistema imune. Mas, para que tenham o efeito esperado, é necessário seguir corretamente as orientações do médico e usar preservativo em todas as relações, para evitar a contaminação de outros e ajudar a controlar a epidemia da doença.

O uso do preservativo é importante até mesmo nas relações sexuais com parceiros já infectados com o vírus da AIDS. Este cuidado é importante, pois existem vários tipos de vírus HIV e, por isso, os parceiros podem ser infectados com um novo tipo de vírus, dificultando o controle da doença.

Entenda melhor a AIDS

A AIDS é uma doença causada pelo vírus HIV que debilita o sistema imune, deixando o indivíduo fragilizado imunologicamente e propenso a doenças oportunistas que em geral seriam de fácil resolução. Após a entrada do vírus no organismo, as células de defesa tentam impedir a sua ação e, quando parecem conseguir, o vírus muda de forma e o corpo precisa produzir outras células de defesa capazes de parar a sua multiplicação.

Quando existe uma menor quantidade de vírus HIV no organismo e uma boa quantidade de células de defesa, o indivíduo fica na fase assintomática da doença, que pode durar até cerca 10 anos. Contudo, quando a quantidade de vírus no organismo é muito maior do que as suas células de defesa, surgem os sinais e ou sintomas da AIDS, pois o organismo já está mais enfraquecido e não consegue deter, nem mesmo doenças que seriam de fácil resolução. Por isso, a melhor forma de tratamento para AIDS é evitar uma recontaminação com o vírus e seguir corretamente o tratamento prescrito segundo protocolos existentes.

#Infecção pelo #HIV: FDA aprova segundo medicamento para prevenção

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mão segurando medicamento para prep hiv

Foi aprovado nos Estados Unidos a emtricitabina 200 mg + tenofovir alafenamida 25 mg (nome comercial Descovy®) em adultos e adolescentes em risco com, pelo menos 35 kg, para a profilaxia pré-exposição ao HIV-1 (PrEP) para reduzir o risco de infecção pelo HIV-1 do sexo, excluindo aqueles que têm sexo vaginal receptivo.

O medicamento não está indicado em indivíduos com risco de infecção pelo HIV-1 por sexo vaginal receptivo porque a eficácia nessa população ainda não foi avaliada.

“Os medicamentos PrEP são altamente eficazes quando tomados conforme indicado na rotulagem e podem prevenir a infecção pelo HIV”, afirmou Jeffrey Murray, MD, MPH, vice-diretor da Divisão de Produtos Antivirais do Centro de Avaliação e Pesquisa de Medicamentos da FDA, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.

Ainda segundo Jeffrey Murray, essa aprovação fornece mais opções de prevenção para certos pacientes em risco de adquirir o HIV e incentiva os esforços adicionais para facilitar o desenvolvimento de opções de tratamento e prevenção do HIV para reduzir novas infecções pelo HIV.

De acordo com a UNAIDS Brasil, atualmente 37,9 milhões de pessoas em todo o mundo convivem com HIV.

 

Combate ao HIV

A PrEP, ou profilaxia pré-exposição, é um método de prevenção do HIV no qual as pessoas que não têm o vírus tomam remédio diariamente para reduzir o risco de contrair o HIV, caso sejam forem expostas ao vírus.

A combinação emtricitabina 200 mg + tenofovir alafenamida 25 mg para PrEP deve ser usado como parte de uma estratégia abrangente, incluindo adesão à administração diária e práticas sexuais mais seguras, como preservativos, para reduzir o risco de infecções adquiridas sexualmente.

Eficácia do novo medicamento

A segurança e eficácia do novo medicamento foram avaliadas em um estudo multinacional randomizado, duplo-cego, em 5.387 homens HIV negativos e mulheres trans, que fazem sexo com homens e corriam risco de infecção pelo HIV-1.

O estudo comparou uma vez ao dia o Descovy® ao Truvada® (emtricitabina, tenofovir disoproxil fumarato, 200 mg / 300 mg), uma combinação diária de dose fixa de dois medicamentos aprovados em 2012 para impedir a aquisição sexual do HIV. Os participantes foram acompanhados por 48 a 96 semanas. O desfecho primário foi a taxa de infecção pelo HIV-1 em cada grupo.

Os pesquisadores mostraram que os dois fármacos foram semelhantes na redução do risco de adquirir infecção pelo HIV-1. A reação adversa mais comum foi diarreia.

Existe um aviso em caixa para indivíduos que tomam Descovy®, que também têm vírus da hepatite B (HBV), estejam cientes do risco de exacerbações do HBV naqueles que descontinuam produtos com emtricitabina ou tenofovir disproxil fumarato e que podem ocorrer em pessoas que descontinuam o novo medicamento.

Emtricitabina 200 mg + tenofovir alafenamida 25 mg para HIV-1 PrEP é contraindicado em indivíduos com status HIV-1 desconhecido ou positivo e somente deve ser prescrito para indivíduos com HIV confirmado imediatamente antes do início e pelo menos a cada três meses durante o uso.

O medicamento já havia sido aprovado pela FDA em 2016 em combinação com outros medicamentos anti-retrovirais para tratar a infecção pelo HIV-1 em adultos e pacientes pediátricos.

 

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED.

Referências:

#Taxa anual de #óbitos por histoplasmose entre portadores de #HIV na América Latina equivale a 70 acidentes aéreos

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Teresa Santos (colaborou Dra. llana Polistchuck)

O Brasil é responsável por 80% dos casos de paracoccidioidomicose que ocorrem no mundo, e a maioria dos relatos remanescentes vem de outros países da América do Sul, entre eles, Colômbia, Venezuela, Argentina e Equador[1]. Essa enfermidade é, segundo o DR. Guillermo Porras Cortés, do Hospital Vivian Pellas, da Nicarágua, uma das micoses endêmicas mais importantes para a América Latina. Outras duas doenças causadas por fungos que merecem destaque na região são a histoplasmose, especialmente na América Central e no Caribe, e a coccioidomicose, principalmente no México. A epidemiologia dessas três patologias foi discutida pelo infectologista durante um simpósio do 20º Congresso Brasileiro de Infectologia, realizado em setembro no Rio de Janeiro.

Paracoccidioidomicose

O agente etiológico da paracoccidioidomicose é o Paracoccidioides brasiliensis e a rota de contaminação é por inalação. Trabalho na agricultura, tabagismo, tuberculose, neoplasias e infecção por HIV/Aids são alguns dos fatores de risco para a doença. Além disso, segundo o Dr. Cortés, sabe-se que homens têm maior propensão, pois o estrógeno presente no organismo feminino inibe a transformação dos conídios em leveduras[1]. Há ainda aspectos genéticos que podem favorecer o desenvolvimento dessa enfermidade, por exemplo, alguns genótipos do sistema de histocompatibilidade humano-HLA (HLA-A9, HLA-813)[2]. Além disso, alguns polimorfismos em genes que codificam citocinas (IL12RB1, 641AA) também são mais frequentes em homens com a forma multifocal crônica da doença[3].

Histoplasmose

Aqui o agente etiológico é o Histoplasma capsulatum, e a forma de aquisição também é por inalação. Entre as formas clínicas da doença temos: histoplasmose pulmonar aguda, histoplasmose pulmonar cavitária crônica, granuloma mediastinal, fibrose mediastinal e histoplasmose disseminada.

De tempos em tempos surgem relatos de casos de hospedeiros não imunocomprometidos na América Central e no Caribe. A infecção desses grupos pode estar associada a surtos epidêmicos, ou representar casos isolados. O Dr. Cortés apresentou à plateia quadros ocorridos na República Dominicana e na Nicarágua. No primeiro evento, transcorrido em 2015, morcegos transmitiram a doença para 27 indivíduos que trabalhavam em túneis de uma hidrelétrica[4]. No segundo episódio, 14 turistas norte-americanos foram infectados após visitar uma caverna infestada de morcegos na Nicarágua[5].

Quando o hospedeiro é imunocomprometido, a situação pode se tornar ainda mais grave. Estima-se que a histoplasmose seja responsável anualmente pela morte de 9600 pessoas vivendo com HIV/Aids, o que, segundo pesquisa publicada na revista AIDS, equivale anualmente a 70 quedas de Boeing 737[6].

Coccidioidomicose

Segundo o Dr. Cortés, as espécies Coccidioides immitis e Coccidioides posadasii são endêmicas no leste e sul dos Estados Unidos, mesoamérica e América do Sul, sendo o México o país da América Latina com taxas mais altas da doença (7,6/100.000)[7].

“Cerca de 60% dos expostos geralmente permanecem assintomáticos. Mas, nos 40% sintomáticos pode ocorrer síndrome febril e primária, com infecção pulmonar geralmente autolimitada, ou evoluir para doença pulmonar mais agressiva ou extrapulmonar”, disse.

Ser do sexo masculino também é fator de risco na coccidioidomicose. Outros fatores são: gravidez, etnia africana e filipina, imunodeficiência celular, e linfadenopatia mediastinal com anormalidades hilares[8,9]. Apesar da importância das micoses endêmicas, o Dr. Cortés alertou que os dados de vigilância sistemática ainda são insuficientes na América Latina, o que dificulta o combate a estas doenças.

#HIV: #profilaxia pré-exposição ao HIV não deve ser ofertada no Brasil por livre demanda, diz pesquisadora

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Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)

A profilaxia pré-exposição (PrEP) como uma medida preventiva para o HIV vem sendo discutida em diferentes países. O tema foi discutido também no Brasil no recente STI & HIV World Congress, em julho no Rio de Janeiro, onde pesquisadores brasileiros e estrangeiros discutiram a oferta de PrEP por livre demanda, apontando eventuais prós e contras de adotar a medida. Para a Dra. Beatriz Grinsztejn, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no contexto brasileiro, a estratégia não é uma opção adequada.

Um dos primeiros registros na literatura sobre PrEP on demand (do inglês, PrEP por livre demanda) foi no estudo francês Intervention Préventive de l’Exposition aux Risques avec et pour les Gays (IPERGAY). No regime sob demanda, em vez de receber uma dose de medicamento diária, os participantes tomavam a medicação antes (de duas a 24 horas) e depois de fazerem sexo (24h após a primeira medicação e outra dose 24h depois)[1]. Essa percepção do sujeito como proativo, ou seja, alguém capaz de buscar a medicação quando julga necessário, foi contrastada, durante o debate, com a ideia do indivíduo passivo, que é designado para receber um esquema terapêutico predeterminado. O regime de tratamento recomendado pelo Ministério da Saúde é o uso diário de um comprimido de tenofovir associado à entricitabina (TDF/FTC 300/200mg)[2].

Existem, no entanto, diferentes argumentos que apoiam o uso de PrEP por livre demanda. Para o Dr. Matthew Golden, da University of Washington (EUA), defender essa estratégia não significa apoiar uma abordagem não orientada. Ao contrário, é defender que “a maioria daqueles que desejam fazer uso de PrEP tenham uma boa indicação para, de fato, recebê-la”. A decisão quanto à forma de ofertá-la, segundo o pesquisador, deve levar em consideração os diferentes contextos, atentando, por exemplo, se o país é de alta, baixa ou média renda, e se há epidemias concentradas ou generalizadas de HIV.

As diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) destacam que a PrEP oral contendo tenofovir disproxil fumarato (TDF) deve ser ofertada como uma opção de prevenção adicional para pessoas em risco substancial de infecção por HIV como parte de abordagens de prevenção de HIV combinadas[3].

Segundo as diretrizes dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dados de 2015 dos Estados Unidos apontam que, entre homens que fazem sexo com outros homens (HSH), cerca de 25% têm indicação para PrEP. Essa taxa cai para aproximadamente 18% quando se trata de indivíduos que usam drogas injetáveis e para 0,4% no caso de adultos heterossexuais[4].

Estudos feitos nos Estados Unidos com dados de farmácias revelam que 97% dos usuários de PrEP são homens[5], porém não foi possível determinar a preferência sexual dos mesmos. Para o Dr. Golden, entretanto, os dados são consistentes com a ideia de que essa profilaxia tem sido amplamente utilizada principalmente por HSH.

Segundo o palestrante, a estratégia de PrEP por livre demanda poderia ser parte de um sistema com foco em pessoas risco elevado.

“Exigir que os médicos determinem o risco pode ser uma barreira para a PrEP e pode exacerbar as disparidades”, destacou, lembrando que dados de um estudo (Khosropour C) ainda não publicado, feito pela internet em 2014 em quatro estados americanos, mostrou que apenas 50% dos HSH têm um médico da atenção primária que sabe que eles fazem sexo com outros homens, sendo que a média de entrevistados por estado foi de 1549 homens. Esses dados suportam a ideia de que muitas vezes é difícil identificar os sujeitos que estão em alto risco para o HIV.

Atualmente, diz o Dr. Golden, “não há evidências de que pessoas em baixo risco para o HIV querem usar PrEP, mas há boa evidência de que aqueles que vão em busca de PrEP estão em risco”. De fato, um estudo feito no Brasil com 1187 homens que fazem sexo com outros homens, e mulheres travestis/transexuais que foram pré-rastreados para o estudo PrEP Brasil mostrou que 82,1% dos participantes estavam dispostos a usar PrEP[6].

O palestrante destacou ainda que a livre demanda é uma estratégia justificável, visto que “autonomia é o princípio mais elevado da ética médica”. Mas, segundo ele, embora a estratégia possa fazer sentido nos Estados Unidos, não é possível saber como ela funcionaria em outros países como, por exemplo, nações da África subsaariana.

Para a Dra. Beatriz, no contexto da saúde pública, implantar uma intervenção significa ser inclusivo. “Precisamos de estratégias práticas para alcançar aqueles que precisam de PrEP, incluindo mas não limitando isto à autorreferência”, disse.

Em locais onde há epidemia concentrada, segundo a especialista, a PrEP não deve ser ofertada por livre demanda, mas sim direcionada àqueles em risco elevado. Estudos de modelagem sugerem que o impacto e a custo-eficácia de PrEP serão maiores quando a terapia for usada por populações em maior risco de infecção, o que significa aqueles que têm incidência de HIV de três por 100 pessoas-ano ou maior[7].

A pesquisadora apresentou dados de um estudo feito no Brasil de custo-eficácia de uso de PrEP entre HSH e mulheres transgêneros em alto risco para infecção por HIV. A pesquisa da Fiocruz, realizada em parceria com instituições internacionais, cujos dados ainda não foram publicados, revelou que a expectativa de vida por pessoa sem PrEP foi de 20,7 anos contra 23 anos com PrEP. Essa estratégia mostrou-se custo-efetiva para HSH e mulheres transgêneros de alto risco em uma incidência de HIV de 4/100 pessoas-ano. Mas, se o PrEP for usado em uma população com incidência de HIV menor do que 1/100 pessoas-ano, ele não será custo-efetivo.

Em países de baixa e média renda, com epidemia generalizada de HIV, a pesquisadora defende estratégias práticas para alcançar os que precisam de PrEP. Ela afirmou ainda que o uso dessa terapia não é para toda a vida, pois o risco não permanece uniforme ao longo dos anos.

“É importante passar essa mensagem tanto para o profissional de saúde quanto para o usuário, ou a implementação de oferta por livre demanda pode perder essas nuances e levar à utilização inadequada do recurso”, disse.

Além disso, a pesquisadora lembrou que não há evidências de que a livre demanda aumentará a aceitação entre os indivíduos que estão em risco. Também é possível que essa estratégia seja percebida na comunidade como uma recomendação estigmatizante. Ao contrário, “se usada de forma apropriada, a PrEP pode fazer a diferença dobrando o freio da epidemia de HIV”, disse ela.

Profilaxia pré-exposição ao # HIV precisa estar aliada a estratégias de aconselhamento e rastreamento, dizem pesquisadores

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Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)

O Brasil está em processo de implementação da profilaxia pré-exposição (PrEP) no Sistema Único de Saúde (SUS). Inicialmente, a terapia será oferecida para grupos considerados de risco para exposição ao HIV. A medida foi anunciada pelo Ministério da Saúde no final de maio deste ano. Embora o programa ainda esteja no início, pesquisadores do tema pedem especial atenção a alguns aspectos. A experiência de diferentes países mostra, por exemplo, que é preciso trabalhar formas de divulgação da terapia, bem como estratégias de aconselhamento e de rastreamento. Esses e outros pontos foram discutidos por especialistas durante sessão realizada no STI & HIV World Congress, sediado este mês no Rio de Janeiro.

PrEP para homens que fazem sexo com homens (HSH) e #transexuais

Dados do Peru apontam carência de informação. Carlos Cáceres, da Universidad Cayetano Heredia, em Lima, apresentou no evento um estudo realizado nas cidades de Lima, Caliao, Trujillo e Iquitos. Durante a investigação foram ouvidos homens que fazem sexo com homens (HSH), mulheres transexuais, provedores de saúde e responsáveis por decisões governamentais, além de representantes da comunidade.

Em cada uma das cidades analisadas foram realizadas quatro entrevistas semiestruturadas com HSH e uma discussão em grupo. O mesmo esquema foi aplicado para as mulheres transexuais. Já com profissionais de saúde de clínicas de doenças sexualmente transmissíveis foram feitas quatro entrevistas em profundidade em cada cidade. Outras 13 entrevistas semiestruturadas foram feitas com representantes da comunidade e dois grupos focais em Lima.

Os resultados revelaram, segundo o Dr. Cáceres, que a informação sobre estratégias combinadas de prevenção de HIV é limitada entre as comunidades, e o fornecimento de dados equivocados leva à resistência à mudança. Segundo o especialista, é preciso implementar uma medida mais atualizada, mesmo sabendo que ela enfrentará barreiras devido a demandas concorrentes e instabilidade política.

Entre HSH e mulheres transexuais há um senso comum acerca da importância do uso de preservativo, porém o uso real depende de vários fatores e significados sociais. Ou seja, segundo o especialista, a adoção de medidas preventivas pode variar, por exemplo, em função da percepção que se tem sobre “relacionamento estável” e/ou “sexo casual”. Além disso, quando se trata de transexuais que fazem sexo por dinheiro, a não utilização do preservativo “pode ser negociada por preços maiores”.

De maneira geral, o estudo peruano mostra que as populações, bem como os provedores de saúde, têm conhecimento limitado sobre novas tecnologias biomédicas, incluindo a PrEP.
“Há uma confusão sobre o papel e o uso de PrEP como tratamento e um potencial estigma associado ao mesmo; há medo com relação aos efeitos colaterais e, no caso das mulheres transexuais, preocupação com uma possível interferência com o uso de hormônios”, disse o Dr. Cáceres. Já os profissionais de saúde e os formadores de opinião temem que o uso de preservativo possa diminuir com a incorporação da PrEP.

O pesquisador destacou a necessidade de investimento nas instituições de saúde e no treinamento de profissionais para desenvolver estratégias combinadas de prevenção de HIV, incluindo PrEP. A implementação de PrEP em combinação com outras medidas preventivas é, de acordo com o estudo peruano, “altamente custo-efetiva[1]“.

Em Baltimore, nos Estados Unidos, foi iniciado um programa de PrEP com recursos do Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Pesquisadores da Johns Hopkins University School of Medicine desenvolveram um estudo para avaliar como pacientes atendidos em clínicas de doenças sexualmente transmissíveis da cidade percebiam a PrEP. Também foi investigado o conhecimento e o interesse em aprender mais sobre o tratamento.

Segundo Luke Johnsen, um dos autores da pesquisa, a maioria dos participantes atendidos nas clínicas (90,5%) era negra e do sexo masculino (61,2%). Dados do CDC apontam que os afro-americanos são o grupo étnico com maior risco de contrair HIV ao longo da vida, com proporção de 1 em 20, comparado a 1 em 132 para brancos[2].

Quanto às preferências sexuais, na amostra de Baltimore 83,5% apontaram o sexo oposto, 7,8% mesmo sexo e 3,9% ambos os sexos. Embora 19,8% dos participantes estivessem conscientes acerca da PrEP, menos de 1% estava fazendo uso da estratégia. Boa parte dos pacientes (42,9%) tinha interesse em aprender mais sobre essa medida profilática. Indivíduos brancos foram os que demonstraram menos interesse no assunto.

Quando os autores consideraram apenas homens que fazem sexo com homens (HSH), 9,2% estavam usando PrEP. A maioria (76,2%) tinha consciência desse tratamento, e quase metade (48,5%) tinha interesse nele. O estudo mostrou que os profissionais de saúde foram a principal fonte de informação sobre PrEP. Mas, embora as estratégias de educação atuais sejam eficazes em melhorar a consciência sobre essa profilaxia, Johnsen considera que o interesse crescente exigirá um recrutamento específico: “temos de achar outras formas de divulgar a PrEP”.

PrEP para heterossexuais

Outro grupo que apresenta risco aumentado de contrair HIV são as mulheres afro-americanas. Nesse caso, o risco é de 1 em 48, comparado com 1 em 880 para as brancas. Nos Estados Unidos, pessoas que vivem no Sul também têm risco aumentado de adquirir essa infecção[2].

Diante desses dados, Riley Steiner, da Rollins School of Public Health da Emory Univesity, e equipe, desenvolveram um estudo sobre a viabilidade da PrEP entre mulheres afro-americanas de Atlanta, na Geórgia.

Os pesquisadores conduziram uma análise com dados secundários de 1.261 afro-americanas jovens em idade sexualmente ativa (14 a 24 anos) para examinar a elegibilidade potencial da PrEP. Além disso, descreveram o interesse desse grupo na profilaxia pré-exposição. As participantes foram recrutadas em clínicas de saúde sexual e em centros comunitários.

Foi desenvolvido um índice de risco de HIV que considerou práticas sexuais vaginal e anal sem preservativo, sexo com parceiro que fazia sexo com outros homens, sexo recente em estado de consciência alterado (sex while high) e experiência recente de violência por parceiro íntimo.

Da amostra total, 261 mulheres foram positivas para infecções sexualmente transmissíveis. Mas, entre as que se enquadraram nessa categoria, 20,1% das recrutadas em clínicas e 21,4% das oriundas da comunidade não apresentaram comportamento de risco (pontuação no índice igual a zero). De forma geral, a prática de ato sexual vaginal sem preservativo foi o comportamento de risco mais reportado pelas participantes.

A maioria das mulheres (57,8%) disse estar propensa ou muito propensa a usar PrEP se disponível. Para os pesquisadores, as afro-americanas de Atlanta apresentam vários critérios sugestivos de que estão em risco substancial para o HIV e, por isso, se mostram boas candidatas para a PrEP. No entanto, a Riley ressaltou a necessidade de medidas inovadoras de rastreamento e de abordagem, baseadas, por exemplo, em indicadores biológicos de risco, tal como positividade para doença sexualmente transmissível (DST), bem como experiência de violência íntima por parceiro e rastreamento de base comunitária. As clínicas de planejamento familiar, segundo a especialista, representam ambientes com potencial para programar essas estratégias.

Para pesquisadores da Dornsife School of Public Health, na Drexel University, na Filadélfia, há, de fato, uma carência de ferramentas de rastreamento de elegibilidade para a PrEP que foquem em grupos heterossexuais. Essa foi então a principal motivação do estudo apresentado por Alexis Roth, que trabalhou com heterossexuais recrutados em quatro locais de testagem e aconselhamento para HIV da Filadélfia.

O grupo também desenvolveu uma ferramenta de rastreamento com seis itens. Os tópicos abordados nesse instrumento foram: (1) ter feito sexo anal ou vaginal com um parceiro HIV-positivo; (2) ter feito sexo anal ou vaginal com parceiro cujo status para HIV era desconhecido; (3) ter usado agulhas, seringas ou outros equipamentos de preparo de drogas que já haviam sido utilizados por outra pessoa; (4) ter usado metanfetamina ou inaladores à base de nitrato; (5) ter sido diagnosticado com DSTs, por exemplo, gonorreia, sífilis ou clamídia; e (6) ter feito sexo em troca de dinheiro, drogas ou outros bens e favores.

Foram analisados 202 participantes, com idade média de 41,7 anos. A maioria era do sexo masculino (69,3%) e negra (52%). Também predominaram indivíduos desempregados (80,7%).

Ao comparar a ferramenta de rastreamento que desenvolveram com as diretrizes clínicas do CDC para PrEP voltadas para homens e mulheres heterossexuais e usuários de drogas[3], o grupo identificou que o primeiro instrumento indicou que 30,7% da amostra era elegível para PrEP, enquanto o segundo apontou 29,7%. A diferença, no entanto, não foi significativa.

Os resultados mostraram ainda que a maioria dos participantes não tinha consciência acerca dessa medida profilática, o que, segundo Alexis, mostra que “a promoção de informação não está alcançando essa população”. Mas, é interessante notar que, de forma geral, as atitudes dos participantes foram positivas com relação à PrEP.

PrEP para adolescentes

Os adolescentes, segundo Renata Sanders, do Johns Hopkins University School of Medicine, representam um segmento que merece atenção especial quando se fala em HIV. Isso porque dados do CDC mostram que, em 2015, indivíduos entre 13 e 24 anos de idade responderam por 22% das novas infecções para HIV-1 nos Estados Unidos[4].

A pesquisadora e colaboradores desenvolveram então um estudo para descrever a integração da PrEP em um ambiente clínico para adolescentes, e avaliaram o impacto do uso dessa terapia sobre as taxas de DSTs. A análise envolveu 436 participantes, com idade média de 18,3 anos. A maioria era afro-americana (98,6%) e heterossexual (88%). Quanto ao gênero, entre os que se identificavam com seu gênero de nascimento (cis), 59,6% eram mulheres e 39% homens. Já com relação aos transgêneros, 1% da amostra era mulher transgênero e 0,4% homem transgênero.

Apenas 61 adolescentes (14%) estavam conscientes acerca da PrEP. Os autores identificaram os participantes elegíveis para esse tratamento, sendo que, ao todo, 93 jovens receberam informações sobre o programa ,e 41 aceitaram participar do projeto-piloto, usando PrEP.

Considerando a história de DST em 24 usuários de PrEP, os pesquisadores identificaram que 54% reportaram DST seis meses antes de iniciar a terapia profilática. Seis meses após o início desta, a taxa caiu para 16%.

Para Renata, a alta taxa de recusa de serviços de referência sugere que o fornecimento de informação pode ser insuficiente para melhorar a aceitação de PrEP entre adolescentes.

PrEP nas Forças Armadas

Eric Garges, da Uniformed Services University, investigou 754 profissionais de saúde do exército norte-americano, sendo maioria do sexo masculino (69%) e formada em medicina (58%).

O apoio ao uso de PrEP foi declarado por 93% dos participantes, e 73% concordaram que essa estratégia deveria ser oferecida no Exército. Desse total, 36% já haviam prescrito antirretrovirais para prevenção de HIV (PrEP ou PEP – profilaxia pós-exposição). Além disso, 31% já haviam sido questionados por um paciente sobre PrEP. Índice que, segundo o Garges, foi surpreendentemente alto. Entretanto, a maioria revelou pouco conhecimento sobre essa terapia em autoavaliação (54%).

PrEP pode aumentar comportamentos de risco?

O temor de que a adesão ao PrEP diminua o uso de preservativos, apontado no estudo peruano, já foi observado em outros trabalhos. Uma investigação na Austrália com indivíduos que usaram PrEP (tenofovir/emtricitabina) diariamente por 30 meses revelou redução significativa no uso de preservativo e aumento de DSTs nos primeiros 12 meses de acompanhamento[5].

Frente a esse achado, pesquisadores de Amsterdã, na Holanda, criaram o Amsterdam PrEP Project (AMPrEP) que está investigando se a adesão a essa estratégia terapêutica leva a mudanças no comportamento de risco sexual. Segundo Anna van Laarhoven, do Public Health Service Amsterdam, a pesquisa que, engloba 376 HSH e transgêneros, foi iniciada em 2015 e tem previsão de encerramento em junho de 2018. Dados preliminares foram apresentados no congresso no Rio.

Trezentos e setenta e seis participantes responderam a questionários no início da pesquisa e após seis meses de uso diário de PrEP, sendo que 224 completaram o acompanhamento. A idade média dos participantes foi 38 anos, 83,1% eram caucasianos e 72,7% tinham nível superior de escolaridade.

A pesquisa revelou que o número de parceiros sexuais e de atos sexuais anais permaneceram estáveis, porém houve aumento nos atos sexuais anais receptivos sem preservativo com parceiros casuais. Nesse último caso, foram preditores idade igual ou maior que 35 anos, uso de profilaxia pós-exposição seis meses antes de iniciar a PrEP e prática sexual sob efeito de drogas (chemsex) com parceiros casuais no início da pesquisa.

Acesso universal a medicamentos de ponta no Brasil é exemplo na resposta ao #HIV

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As festas que marcaram a virada de 2016 para 2017 tiveram um gosto amargo para Welber Moreira. O jovem de 23 anos descobriu um dia depois do Natal que estava vivendo com o HIV.

Ele conta que se sentiu doente e procurou uma clínica de saúde pública para obter algumas respostas. Em vez disso, o médico lhe fez uma pergunta surpreendente. “Ele me perguntou: ‘Posso ver seu resultado de teste de HIV mais recente?’”, conta. Welber nunca pensou que um vírus que ele estudou tempos atrás em uma aula de biologia um dia mudaria sua vida.

Foi então que o médico o encaminhou a um dos centros públicos de aconselhamento e testagem de sua cidade natal, Ribeirão Preto, no norte de São Paulo, onde fez um teste rápido de HIV. Seu diagnóstico positivo foi confirmado por um segundo exame.

Não consigo imaginar como era no passado, ter que tomar

várias pílulas por dia em momentos diferentes

e com efeitos colaterais desagradáveis.”

“Chorei pra caramba na frente dela [enfermeira] e ela falou ‘calma, não é assim!’. Mas eu não via uma saída. Eu achava que eu ia morrer, não conhecia sobre a doença, não sabia como era o tratamento, eu só sabia que HIV era AIDS e AIDS matava. E a AIDS ia me matar e eu ia ficar doente, e ia ficar na cama, ia ficar fedendo, ia depender das pessoas e ninguém ia me amar mais”, conta Welber relembrando cada minuto do drama vivido no momento do diagnóstico. “E eu assim, em desespero: eu tenho uma namorada e estava junto com ela quando eu descobri. Eu tinha que informar ela que eu estava com HIV porque a gente tinha relação sexual sem camisinha.

Sua namorada teve resultado negativo para o HIV. Ela começou a PEP (profilaxia pós-exposição)— que é um tratamento de prevenção de 28 dias—, mesmo antes de Welber ter começado seu próprio tratamento com antirretrovirais.

Mas algo mais o deixou preocupado. “Eu estava muito assustado e com medo dos efeitos colaterais”, disse Welber. Surpreendentemente, ele disse, se sentiu bem desde o início do tratamento do HIV. Agora, antes de ir para a cama ele toma duas pílulas à noite. “Não consigo imaginar como era no passado, ter que tomar várias pílulas por dia em momentos diferentes e com efeitos colaterais desagradáveis.”

Weber é um dos 100.000 brasileiros que iniciaram tratamento para o HIV com dolutegravir (DTG). Foto: Produtora Burn/UNAIDS Brasil

Welber está entre os mais de 100.000 brasileiros que irão iniciar este ano o tratamento com um novo medicamento contra o HIV chamado dolutegravir (DTG), que tem menos efeitos colaterais e é mais eficaz na supressão viral. No início do ano, o Ministério da Saúde do Brasil anunciou que negociou com sucesso a compra desse medicamento, obtendo um desconto de 70%, o que reduziu o preço por comprimido de 5,10 dólares para 1,50 dólar. Como resultado, mais pessoas poderão ter acesso ao dolutegravir dentro do orçamento aprovado para tratamento no país em 2017: que é de R$ 1,1 bilhão.

Welber agradece o apoio que ganhou de sua namorada e a eficiência da clínica e do centro, o que o ajudou a superar o trauma inicial.

Falar de HIV e revelar sua sorologia não mais incomoda Welber. Ele disse que fala abertamente sobre isso para seus amigos e no trabalho. Uma pequena parte de sua família não recebeu muito bem a notícia, mas ele não perdeu a esperança.

Ele tem grandes planos com sua namorada. “Nós planejamos ter dois filhos, dentro de três anos”, disse ele.

Welber também disse sentir que tem que ajudar os outros. “Sempre que posso, por exemplo, eu passo na clínica de saúde local e pego alguns preservativos para os meus colegas do trabalho e meus amigos”, conta. “É uma oportunidade para compartilhar com eles o que eu conheço e falar sobre prevenção.”

 

 

A ampliação do tratamento de HIV nos países de baixa e média renda nos últimos 15 a 20 anos é uma das maiores histórias de sucesso da saúde global. Na África Subsaariana, ao final de 2002, apenas 52 mil pessoas estavam sob tratamento. Graças ao aumento dos níveis de produção e ao uso total das flexibilizações de patentes, o número de pessoas em tratamento cresceu para 12,1 milhões em 2016. As lições aprendidas com a resposta à AIDS aumentaram o acesso aos medicamentos para pessoas vivendo com tuberculose, hepatite C e doenças não-transmissíveis.

Pesquisadores e cientistas continuam inovando e melhorando a eficácia dos medicamentos antirretrovirais e buscando uma cura para o HIV. Os medicamentos antirretrovirais evoluíram a tal ponto que uma pessoa vivendo com o HIV atualmente, se seguir regularmente o tratamento, pode ter uma expectativa de vida semelhante à de uma pessoa HIV negativa.

Quando o governo brasileiro concedeu acesso universal aos medicamentos antirretrovirais em 1996, mudou-se o curso da epidemia nacional e as taxas de sobrevivência aumentaram notavelmente. Previsões graves sobre as mortes relacionadas à AIDS em larga escala nunca se concretizaram. O Sistema Único de Saúde do Brasil continua a demonstrar sua liderança na resposta ao HIV ao incorporar nos serviços de rotina as tecnologias médicas e científicas mais avançadas para o tratamento do vírus.

A história de Welber nos diz o quanto o ODS 9—construir infraestrutura resiliente, promover uma industrialização inclusiva e sustentável e desenvolver a inovação—está entrelaçado com o aumento do acesso equitativo aos medicamentos e ao progresso para acabar com a epidemia de AIDS até 2030.

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável amplia para uma escala global o que a resposta à AIDS tem feito há 30 anos—uma abordagem multissetorial baseada em direitos e centrada nas pessoas que aborda os determinantes da saúde e do bem-estar. Esta história faz parte de uma série de histórias de vida que destacam os vínculos entre o HIV e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionados ao tema, cada uma contada da perspectiva pessoal das pessoas afetadas pelo HIV. A série traz uma ideia de como o HIV está interconectado com os ODS e quão interdependentes os ODS são uns dos outros. Mais importante ainda, as histórias nos mostram o progresso alcançado com a resposta à AIDS e o caminho que ainda nos falta percorrer com os ODS.

Fonte: uniaids.org.br

Testes rápidos em índios do Amazonas e de Roraima mostram taxas importantes de sífilis e HIV

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Teresa Santos e Dra. Ilana Polistchuck

Uma análise conduzida em nove Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) dos estados de Amazonas e Roraima revela que a mobilidade é um importante fator de risco para infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e por sífilis nessas comunidades[1]. Para a autora Dra. Adele Schwartz Benzaken, do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), do HIV/Aids e das Hepatites Virais do Ministério da Saúde, e da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, em Manaus, isso ocorre porque a mobilidade leva a contatos interétnicos. Mas há ainda outras questões importantes que contribuem para aumentar o risco de ISTs entre os indígenas de todas as etnias, por exemplo, iniquidade social, questões culturais, desinformação e pouco uso de preservativo.

Em estudo publicado em junho deste ano no International Journal for Equity in Health[1], a Dra. Adele e colaboradores estimaram a prevalência de HIV e sífilis entre 45.967 índios nos DSEIs de Manaus, Ianomâmis, Leste Roraima, Alto Solimões, Parintins, Alto Rio Negro, Médio Solimões, Médio Purus e Vale do Javari. A investigação foi conduzida entre fevereiro de 2009 e junho de 2011.

Durante o trabalho, 509 profissionais de saúde foram treinados para rastrear as infecções usando testes rápidos. Eles anunciaram a testagem nas comunidades usando um megafone e também folhetos e cartazes que foram adaptados culturalmente para cada grupo indígena. Os participantes receberam aconselhamento pré-teste de HIV e foram entrevistados utilizando um questionário estruturado. A pesquisa foi registrada pelo cineasta Aldemar Matias, e resultou nos documentários Parente e Nati Parente. O primeiro pode ser acessado no link: https://vimeo.com/40111854.

A média de idade dos participantes foi de 22,5 anos e 56,5% eram do sexo feminino. De forma geral, a prevalência de HIV foi 0,13% e de sífilis 1,82%. Na população geral brasileira, segundo dados de 2011 do Ministério da Saúde, a prevalência de HIV era de 0,4%[2]. Já a sífilis atingia 0,85% da população em 2012[3].

Na população indígena investigada os homens tiveram a maior prevalência de HIV (0,16%), seguidos pelas mulheres (0,11%) e por gestantes (0,07%). No caso da sífilis, a prevalência em homens foi 2,23%, em mulheres 1,51% e em gestantes 1,52%.

Dos nove distritos sanitários especiais indígenas analisados, o Vale do Javari, localizado em uma região de fronteira com a Colômbia e o Peru, apresentou as maiores prevalências para ambas infecções (HIV: 3,38% e sífilis: 1,39%). Esse distrito foi também o que apresentou a maior mobilidade e intrusão, e a menor disponibilidade de serviços pré-natais. O nível de violência também foi classificado como alto.

Além do Vale do Javari, Leste Roraima e Alto Solimões também apresentaram níveis altos dos três fatores de vulnerabilidade (mobilidade, intrusão e violência) avaliados.

Os autores definiram como mobilidade: frequência de interações entre cidades e comunidades e de contato com viajantes, com unidades das Forças Armadas e com as fronteiras do país. Já intrusão foi considerada como a presença de indústria madeireira, agronegócios, atividades de mineração ou áreas de garimpo ou mineração informal dentro ou perto do DSEI. Violência, por sua vez, considerou a existência de casos de agressão física e sexual, assassinatos, ameaças de morte e outras ameaças e disputas de terras.

Uma análise multivariada revelou ainda que idade, sexo masculino e mobilidade estiveram associados à infecção por sífilis. No caso da idade, a probabilidade de infecção por sífilis aumentou 4% por cada ano de idade adicional.

A Dra. Adele diz que, em comunidades mais próximas de municípios, já se espera que a maior mobilidade esteja associada a risco aumentado de ISTs. Por outro lado, em populações de difícil acesso, tal como os ianomâmis, a mobilidade é menor e dificilmente ocorrem contatos interétnicos.

Outros aspectos, no entanto, contribuem para tornar as populações mais vulneráveis, entre eles, iniquidade social, questões culturais e desinformação sobre IST e HIV.

“As terminologias IST e HIV são inclusive inexistentes na linguagem indígena”, contou a pesquisadora ao Medscape. Além disso, ela destaca que o baixo uso do preservativo é um dos principais fatores de risco. A pesquisa mostrou que apenas 49,7% dos entrevistados fizeram uso de preservativo na última relação sexual. “Informações colhidas em campo mostram que essa resistência ocorre principalmente porque as comunidades devem ter muitos filhos para a continuidade/perpetuação da etnia e o preservativo não é utilizado por esta razão”, afirma a Dra. Adele.

A pesquisa mostrou que é viável trabalhar com populações indígenas localizadas em áreas remotas, e que os testes rápidos são um instrumento importante, sendo especialmente relevantes para o aumento da detecção de casos entre gestantes, principalmente de sífilis. A prevalência dessa infecção em mulheres grávidas indígenas (1,52%) foi maior do que entre gestantes da população geral (0,85%)[2], porém a Dra. Adele pondera que a prevalência nos brasileiros provavelmente aumentou significativamente nos últimos anos, devido à epidemia que se estabeleceu. De fato, a prevalência de 0,85% foi estimada para o ano de 2012, período no qual a taxa de detecção de sífilis em gestantes era de 6,0 casos/mil nascidos vivos no país. Em 2015, essa taxa passou para 11,2[4].

Embora o estudo em parturientes indígenas já tenha sido realizado há alguns anos, e ainda faltem dados sobre a prevalência anterior a essa pesquisa, a pesquisadora afirma que a prevalência de sífilis para esta população é alta.

“Esta foi a primeira vez que as populações indígenas desses estados tiveram acesso a estes diagnósticos graças à nova tecnologia dos testes rápidos, que não precisam de laboratório, de eletricidade ou geladeira, e são de fácil uso. Os profissionais de saúde da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) treinados se adaptaram muito bem a esta tecnologia e, segundo os depoimentos deles, poder diagnosticar as infecções dentro das próprias aldeias foi importante (os fez sentirem-se empoderados), assim como também poder tratar imediatamente as pessoas infectadas”, diz a Dra. Adele, lembrando que as ações realizadas durante a pesquisa foram absorvidas pela SESAI e o Ministério da Saúde manteve, então, a oferta dos testes rápidos e dos preservativos nas aldeias.

A pesquisa, que contou com a participação de cientistas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), da Universitat de Girona, Espanha, do CIBER of Epidemiology and Public Health (CIBERESP), Espanha, da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Nilton Lins, de Manaus, da Facultad de Medicina Calixto García, de Cuba, e da London School of Hygiene and Tropical Medicine, do Reino Unido, foi financiada pela Bill & Melinda Gates Foundation. O Programa para HIV, ISTs e Hepatites Virais do Ministério da Saúde do Brasil doou os testes de HIV.

Tuberculosis and HIV co-infections increased by 40% in Europe in 2011-2015

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The European Centre for Disease Prevention and Control and the WHO have released new figures to mark World TB Day tomorrow.

New data released to mark World TB Day tomorrow (March 24, 2017) show that the number of new cases of TB in the 53 countries of the WHO European Region declined by 4.3 per cent per year between 2011 and 2015.

According to the figures from the European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) and the WHO Regional Office for Europe, TB-related deaths also declined by 8.5 per cent. However, vulnerable groups for TB infection, such as people living with HIV, prisoners and migrants, did not benefit from this trend. New TB/HIV co-infections increased by 40 per cent.

“The general downward trend in reported TB cases is encouraging, but some groups are not benefiting from this trend and we need to target our efforts better if we want to end the TB epidemic,” said ECDC Acting Director Dr. Andrea Ammon. “Looking at the data for the EU/EEA, we see that the TB treatment success rate of co-infected patients is below the global target of 85 per cent. But although we know about the challenges of TB/HIV co-infection, for two out of three TB patients, the essential information on their HIV status was not reported in 2015. We need to get better at this”.

HIV: 30,000 new cases in Europe every year

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A special report from the European Centre for Disease Prevention and Control shows HIV remains a significant problem in 31 EU/EEA countries.

HIV remains a significant public health problem in the 31 countries of the European Union and European Economic Area (EU/EEA), with around 30,000 newly diagnosed HIV infections reported each year over the last decade, new figures from the European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) show.

In a special report on The status of the HIV response in the EU/EEA 2016 , the ECDC reports that one in six people diagnosed with HIV are still not receiving treatment. Overall, 0.2 per cent of the adult population is living with HIV, but prevalence is much higher in some countries and among key populations. Men who have sex with men are the key population within which new infections continue to increase. Migrants also remain disproportionately affected. One in seven people are unaware of their infection.

Commenting on the figures, ECDC Acting Director Andrea Ammon said: “To reduce the number of new HIV infections in Europe, we need to focus our efforts in three main areas: prioritising prevention programmes, facilitating the uptake of HIV testing, for example by introducing new approaches like community-based testing or self-testing to diagnose those infected. And, of course, easier access to treatment for those diagnosed.”

HIV is becoming resistant to modern therapies

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Significant numbers of HIV patients in Africa are showing signs of multidrug resistance.

Significant numbers of patients who developed resistance to older generation drugs are now also showing resistance to modern drugs, according to a new international study.

The research, led by the London School of Hygiene and Tropical Medicine and published in The Lancet Infectious Diseases , studied 712 HIV patients across the world whose infection was not controlled by antiretrovirals.

The study found that 16 per cent of people who were resistant to modern first-line treatments carried thymidine analogue mutations, which are known to underpin resistance to older HIV drugs. Among these mutation-positive patients, 80 per cent were also resistant to the modern nucleoside reverse transcriptase inhibitor, tenofovir.

Lead author, Professor Ravi Gupta said the results were unexpected. “Mutations for thymidine analogue resistance were previously thought to be incompatible with mutations for tenofovir resistance, but we now see that HIV can be resistant to both at once.”

“To prevent these multi-resistant strains from developing, we need cheap, reliable systems to assess people before treatment,” he said.

In the absence of such tests, viral load monitoring before and after treatment may be an option. “Although not as precise as resistance testing, this could help us to detect treatment failure earlier and switch patients to second-line drugs,” Professor Gupta explained.