Uma das características fundamentais á sobrevivência da espécie humana, é o medo. O medo muito provavelmente tenha sido desenvolvido como forma de nos protegermos dos perigos que viemos enfrentando desde os primeiros estágios do que hoje é o HOMO SAPIENS, ou seja, como somos hoje: “homens sábios”.
Gostaria de fazer um exercício de reflexão e para isso vamos buscar na biologia básica um conceito fundamental das células, que é a irritabilidade ou excitabilidade, que é a capacidade de uma célula responder a estímulos intra ou extra celular. A irritabilidade passa a ser então uma propriedade da célula que á torna apta a responder aos estímulos. É uma propriedade que podemos verificar em diversos tipos de células no organismo. E aqui começa nossa reflexão! O medo é uma resposta do organismo a um estimulo que é percebido como perigoso e pede uma resposta de proteção. Assim como a célula que se contrai ao ser perfurada por uma haste, sim a célula tenta se afastar do estimulo no caso a haste que tenta perfura-la.
Então o medo seria uma resposta a este estimulo que é ameaçador, porem temos um componente vital a incluir em nossa reflexão, a consciência. Esta capacidade que como organismo complexo o homo sapiens tem desenvolvido e que em alguma medida nos diferencia dos demais organismos complexos, pelo menos até o momento (à quem discorde de que somos diferentes dos demais organismos complexos).
O medo é então, o resultado de um complexo sistema de respostas a situações e normalmente desencadeia duas repostas principais do organismo, uma é de fuga já que a pessoa não percebe em si a capacidade de interagir com a situação ameaçadora sem ameaçar sua integridade psicológica, a outra é de ataque/enfrentamento onde a pessoa ataca a situação problema visando destruí-la e com isso eliminar a ameaça a sua integridade psicológica. Ambas tem a função de proteger a integridade da pessoa e estão diretamente ligadas a sobrevivência da espécie, podemos encontrar este comportamento em diversas espécies de organismos complexos.
Por ser um comportamento ligado a sobrevivência naturalmente é levado a um nível de automatização de respostas básicas e rápidas do organismo, onde tende a receber pouca influencia das funções “superiores do organismo” e tendo assim, pouca oposição em sua execução/resposta a situação perigosa a integridade do organismo. Ou seja, o organismo entende que pensar pode coloca-lo em perigo já que a situação perigosa exige uma resposta rápida de ataque ou fuga.
O medo desencadeia um impulso que fica em um nível de baixa consciência, pelo menos para a maioria de nós, e isso é uma das principais dificuldades em lidar com medos. Ele fica em um nível de consciência conhecido como inconsciente e com isso não queremos dizer que ele não pode ser acessado, somente que esta pouco iluminado pela consciência. De forma geral refletimos muito pouco sobre como funcionamos diante das situações e normalmente pensamos não conseguirmos agir diferente.
Então como tornar consciente algo que esta no “inconsciente” e que tem uma função de proteger o organismo dos perigos do ambiente, e que por isso, tem uma complexa cadeia de interações neurais e que deve ser automática por natureza, pois o tempo de reação é vital para a sobrevivência do organismo.
A questão é que muitos dos perigos que desencadearam a necessidade de desenvolvimento desses impulsos de proteção, cujo o sintoma é o medo, não se fazem mais presentes nos dias de hoje. Por exemplo, dificilmente ao passar por uma área qualquer você será atacado por um dinossauro, um tigre ou algum animal selvagem, então o medo que nos impede muitas vezes de explorar novas situações, lugares e formas de fazer algo pode estar ligado á um impulso de autopreservação que pode não ter mais sentido nos dias de hoje, e que na verdade hoje podem ser limitadores, nos impedindo de conquistar novos níveis de autonomia e realizações.