NOVA YORK (Reuters Health) – Pesquisadores descobriram que bebês com a síndrome congênita do vírus Zika têm anormalidades oculares graves nos dois olhos.
Em novembro a Organização Mundial da Saúde (OMS) alterou o status da infecção pelo Zika de emergência para “desafio de longo prazo à saúde pública” (http://bit.ly/2pM50dQ). Esta mudança, “indica uma necessidade urgente de avaliar e documentar pacientes com manifestações oftalmológicas para o manejo oportuno da doença, e confirmar se o problema de saúde pública no Brasil se estende a outras regiões da América do Sul”, disse o Dr. J. Fernando Arevalo do Wilmer Eye Institute da Johns Hopkins University School of Medicine, em Baltimore, Maryland, por e-mail à Reuters Health.
Em 2015 e 2016, Dr. Arevalo e colegas estudaram 43 bebês com a síndrome congênita do vírus Zika (28 meninas e 15 meninos; com idade média de dois meses no momento do exame) em dois centros oftalmológicos na Colômbia e na Venezuela. Vinte eram hispânicos, 13 eram negros, oito eram brancos e dois eram indígenas.
Nenhuma das mães teve problemas oculares durante o período do estudo ou durante a gravidez.
Os bebês passaram por exames oculares, incluindo oftalmoscopia dilatada, assim como testes sorológicos para descartar toxoplasmose, rubéola, sífilis, citomegalovírus e HIV.
Conforme publicado on-line no JAMA Ophthalmology, no dia 13 de abril, todos os bebês tiveram problemas oculares bilaterais graves. Os achados do nervo óptico incluíram hipoplasia do disco com sinal do duplo anel, palidez, e em cinco deles (11,6%), aumento da escavação papilar.
Foram encontradas anormalidades maculares, incluindo depósito pigmentar de médio a grave em 27 bebês (63%) e maculopatia lacunar em três (7%). Cicatrizes coriorretinianas também foram encontradas em três bebês estudados.
Onze bebês (26%) tinham uma combinação de lesões no polo posterior, e cinco (12%) foram diagnosticados com glaucoma congênito, incluindo características como fotofobia, aumento da pressão intraocular (PIO) e perda da transparência corneana ao nascimento.
No geral, 12% dos bebês com zika congênita e microcefalia tinham anormalidades do segmento anterior, e 88% tinham anormalidades maculares e do nervo óptico, de acordo com os autores.
Dr. Arevalo disse, “É necessário um acompanhamento de longo prazo para determinar o real significado dos nossos achados em relação às deficiências visuais específicas. Por exemplo, a dimensão das anormalidades da pressão intraocular ao longo do tempo é desconhecida. Nós não encontramos uveíte em nossos pacientes, mas ela foi relatada e precisa ser descartada em bebês com zika congênita”.
“A necessidade de reabilitação visual nessas crianças é muito importante”, acrescentou ele. “A identificação precoce por rastreio não fará diferença no tratamento, uma vez que se trata de uma infecção intrauterina, e por isso já encontramos cicatrizes retinianas ao nascimento”.
Dra. Meenakashi Gupta, professora-assistente de oftalmologia na Icahn School of Medicine do Mount Sinai, Nova York, disse à Reuters Health que o estudo “contribui para a evolução do conhecimento em relação às anormalidades oculares congênitas associadas à infecção materna pelo vírus Zika durante a gravidez”.
Os casos na Colômbia e na Venezuela “confirmam relatos anteriores do Brasil descrevendo alterações graves no desenvolvimento normal dos olhos em associação com a síndrome congênita do vírus Zika”, disse ela por e-mail.
“O trabalho destaca ainda mais a importância e a necessidade de exames oftalmológicos em bebês que têm a síndrome congênita do vírus Zika com microcefalia”.
FONTE: http://bit.ly/2oS2ynx
JAMA Ophthalmol 2017.