obesidade central

Trabalho em turnos, especialmente à noite, aumenta risco de sobrepeso e obesidade central

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Profissionais que trabalham em esquema de turnos, especialmente os que trabalham permanentemente em turnos à noite, são mais propensos a sobrepeso o obesidade do que os que não trabalham em esquema de plantão e, com mais frequência, a obesidade observada é a visceral, reafirma uma meta-análise da literatura.

“O trabalho em esquema de turnos foi recentemente identificado como sendo um importante risco ocupacional, com um número cada vez maior de evidências demonstrando a associação entre trabalho em regime de turnos e efeitos adversos à saúde, como as alterações metabólicas, inclusive a obesidade”, segundo escrevem Dra. Miaomiao Sun, PhD, médica da Chinese University of Hong Kong na República Popular da China, e colaboradores, em artigo publicado on-line em 4 de outubro no periódico Obesity Reviews.

“Mostramos que o trabalho no turno da noite aumenta o risco de obesidade/sobrepeso em 23%, e o excesso de risco de obesidade visceral foi ainda maior, igual a 35%”, afirmam os pesquisadores.

Risco mais proeminente entre os que fazem plantão noturno fixo

A revisão sistêmica e a meta-análise contou com 28 artigos: 22 estudos transversais e seis estudos de coorte.

Quase metade dos estudos, 11 no total, foi feita com profissionais de saúde. Como observaram os autores do estudo, os pesquisadores agruparam as estimativas de risco de cada estudo para chegar a uma imagem mais clara da associação entre os diferentes tipos de trabalho em esquema de turnos e os tipos específicos de obesidade.

Em relação aos profissionais que trabalham no horário comercial, “a odds ratio, OR, geral do plantão noturno foi de 1,23 (…) para o risco de obesidade e sobrepeso”, informam os autores (P = 0,001).

Entre os estudos que definiram o turno da noite como o período de meia-noite às cinco horas da manhã, os trabalhadores do plantão noturno tiveram 32% mais probabilidade de serem obesos ou terem excesso de peso, com ORs de 1,32 (P < 0,001), do que aqueles que não trabalhavam durante a noite, mas que ainda assim entravam na ampla categoria de plantonistas.

Neste último grupo de profissionais — que podiam fazer plantões diurnos — o risco de sobrepeso ou obesidade foi muito menor, com OR de 1,14.

Alguns estudos também revelaram que os profissionais que trabalhavam fixo no plantão noturno tinham mais de 40% de chances de sobrepeso ou obesidade do que os que trabalhavam em turnos alternados, com OR de 1,43 (P < 0,001).

Assim, os profissionais que trabalhavam permanentemente em turnos à noite foram 29% mais propensos ao excesso de peso ou à obesidade do que os que faziam turnos rotativos (OR de 1,43 vs. 1,14).

Curiosamente, a etnia não pareceu alterar o risco de sobrepeso ou obesidade entre os plantonistas em comparação aos que trabalhavam em horário comercial, como indicaram estudos feitos em diferentes regiões geográficas.

A desregulação do ritmo circadiano pode ser a culpada

Ao tentar explicar a maior propensão dos plantonistas ao excesso de peso, os pesquisadores apontam para a desregulação do ritmo circadiano como uma potencial causa subjacente. O ritmo circadiano é desregulado pela exposição à luz durante a noite.

“A melatonina desempenha um papel fundamental na sincronização do ritmo circadiano central e periférico, e regula a secreção de hormônios como cortisol, insulina e leptina”, explicam os pesquisadores.

“E a perturbação desses ciclos pode levar a um distúrbio da homeostasia e promover perfis metabólicos anômalos”, acrescentam.

Esta hipótese foi reforçada pela observação de que os plantonistas com turnos rotativos — de tal modo que seus sistemas circadianos se adaptavam continuamente ao trabalho nos plantões — não tiveram maior probabilidade de sobrepeso ou obesidade em comparação com os profissionais cujos plantões noturnos eram fixos.

“Nosso estudo revelou que grande parte da obesidade e do excesso de peso entre os plantonistas é atribuível à natureza deste trabalho”, disse a Dra. Miaomiao.

“A alternância dos horários de trabalho para evitar uma exposição prolongada ao trabalho noturno pode ser um mecanismo de controle administrativo eficiente para a redução do risco de obesidade”, acrescenta a pesquisadora.

Em todo o mundo, cerca de 20% da força de trabalho geral executa algum tipo de trabalho em esquema de turnos.

Este trabalho foi financiado pela National Natural Science Foundation da China. Os autores informam não possuir conflitos de interesses relevantes ao tema.

Obesity Reviews. Publicado on-line em 4 de outubro de 2017. Resumo

#”Pneus” na cintura aumentam mais o #risco de câncer do que aumento do #IMC e do #percentual de gordura corporal

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Alexander M. Castellino, PhD

Madri, Espanha – Mais do que o excesso de peso por si só, a obesidade central – definida como o aumento da proporção entre a gordura no tronco e a gordura periférica – faz com que as mulheres depois da menopausa tenham maior risco de receber um diagnóstico de câncer, apontou um estudo apresentado no congresso de 2017 da European Society for Medical Oncology (ESMO).

“Essas descobertas impulsionam as prioridades de controle de peso para as mulheres nesta faixa etária, cuja tendência é ganhar peso abdominal”, disse a pesquisadora do estudo Line Maersk Staunstrup, MSc, doutoranda na Nordic Bioscience and ProScion, em Herlev (Dinamarca).

“Ao estimar o risco de câncer, o índice de massa corporal (IMC) e o percentual de gordura podem não ser medidas adequadas porque não avaliam a distribuição da gordura corporal”, explicou a pesquisadora. “A gordura não é apenas gordura, mas o local no corpo onde é armazenada é importante”, acrescentou a autora.

“Nosso estudo mostra que evitar a obesidade central pode conferir maior proteção”, disse Line.

O estudo e os resultados dinamarqueses

Prospective Epidemiologic Risk Factor foi um estudo de coorte observacional e prospectivo destinado a aprofundar o conhecimento acerca das doenças relacionadas com a idade nas mulheres depois da menopausa na Dinamarca.

De 1999 a 2001, foram recrutadas 5.855 mulheres (média de idade de 71 anos). Os pesquisadores obtiveram informações clínicas e demográficas. A densitometria óssea foi realizada no momento do recrutamento. A densitometria óssea é a maneira mais precisa de verificar a massa óssea, a massa magra e a massa de gordura, observam os autores.

Os dados foram subgrupados em três categorias diferentes: câncer de mama e/ou ovário, câncer pulmonar e/ou gastrointestinal, e outros tipos de câncer. Os modelos de regressão de risco proporcional de Cox foram utilizados para examinar a associação entre a distribuição da gordura corporal e o risco de incidência de câncer, ajustados por fatores de risco convencional, como o índice de massa corporal.

Os diagnósticos de câncer e as informações sobre as causas de morte foram obtidos de diferentes registros dinamarqueses até 2012. O acompanhamento durou em média 12 anos.

Usando informações obtidas dos registros nacionais de câncer, os pesquisadores do estudo descreveram 811 tumores nas mulheres, e mostraram que a obesidade central foi um indicador independente significativo para o diagnóstico de câncer até 12 anos após o início do estudo (hazard ratioHR = 1,30; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 1,11 a 1,52; < 0,001). Surpreendentemente, observou Line, nem o IMC nem o percentual de gordura representaram um risco significativo para o diagnóstico de câncer.

Especificamente, houve 293 casos de câncer de mama e ovário, 345 casos de câncer de pulmão e de sistema digestivo, e outros 173 tipos de câncer. Entre esses grupos de câncer, a obesidade central só foi fator de risco de diagnóstico de câncer para o câncer de pulmão e o câncer de sistema digestivo (HR = 1,42; < 0,01).

Line também ficou surpresa com o fato de que a obesidade central não foi um fator de risco independente para o diagnóstico de câncer de mama e de ovário.

Os pesquisadores determinaram que apenas os tumores de pulmão e do sistema digestivo estavam associados à obesidade central (para câncer de pulmão: HR = 1,68; IC de 95%, de 1,12 a 2,53; P < 0,05; para câncer do sistema digestivo: HR = 1,34; IC de 95%, de 1,0 a 1,8; P < 0,05).

Outros fatores de risco de câncer adicionais foram idade avançada, uso de terapia de reposição hormonal e tabagismo. Entretanto, após o ajuste para esses fatores de risco, a proporção da gordura permaneceu sendo um fator de risco independente, informaram os autores do estudo.

“As mulheres mais velhas podem muito bem usar essa informação, já que se sabe que a transição da menopausa inicia uma modificação que leva à deposição da gordura corporal na região central do tronco. Portanto, as mulheres devem prestar atenção especial ao próprio estilo de vida quando se aproximam da menopausa”, disse Line.

“Além disso, os médicos podem usar essas informações para ter uma conversa sobre prevenção com as mulheres que têm maior risco de câncer. Embora os médicos tenham acesso a aparelhos de densitometria de corpo inteiro na maioria dos hospitais, foram disponibilizados no mercado aparelhos portáteis, o que pode permitir o exame ósseo e da gordura regional. No entanto, este pode não ser o método mais confiável para medir a obesidade central”, concluiu a pesquisadora.

Comentando o estudo, o Dr. Andrea De Censi, médico do Ospedali Galliera, em Genova (Itália), disse que o estudo fornece uma confirmação importante do papel da obesidade, e particularmente da resistência à insulina, na etiologia de vários tipos de câncer.

“Embora a obesidade tenha sido previamente relacionada com o risco de câncer, a ligação dela com o câncer de pulmão é nova e intrigante”, disse o médico em um comunicado à imprensa.

“O aumento dos níveis de insulina, resultantes do consumo excessivo de carboidratos simples como batatas, trigo, arroz e milho, resultam no acúmulo de gordura, especificamente visceral e abdominal”, explicou o Dr. De Censi. A insulina também exerce efeitos prejudiciais na produção hormonal, e as células adiposas aumentam a inflamação crônica em todo o corpo, outro fator de risco para vários tipos de câncer.

“Estes dados abrem a porta para que os médicos iniciem uma série de intervenções para os pacientes obesos. Além da perda de gordura com dieta e exercícios, pode haver algum papel para os medicamento contra o diabetes, como a metformina, que pode diminuir os efeitos da insulina e contribuir para a prevenção do câncer”, disse o Dr. De Censi.

Os autores informaram não ter nenhum conflito de interesse relativo ao tema.

Congresso de 2017 da European Society for Medical Oncology (ESMO). Apresentado em 10 de setembro de 2017. Resumo 1408P.