osteoartrite (OA)

#Acupuntura para #dor crônica: avanços sem precedentes

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Pauline Anderson

SAN DIEGO — As últimas duas décadas viram “avanços sem precedentes” no uso da acupuntura para tratar a dor, com um “aumento rápido” no número e na qualidade de estudos relacionados publicados, de acordo com um médico que é praticante experiente de acupuntura.

“No momento, temos uma base bem sólida para a eficácia da acupuntura” para cefaleia, osteoartrite (OA) e condições musculoesqueléticas, disse Farshad M. Ahadian, professor de anestesiologia da University of California, em San Diego.

“Eu acho justo dizer que a acupuntura está aqui para ficar. Será uma adição permanente às nossas opções de recursos”.

O Dr. Ahadian apresentou os dados no 28º Encontro Anual da Academy of Integrative Pain Management (AIPM).

Crise dos opioides

Para alcançar seu “potencial total”, os clínicos precisam “integrar completamente” a medicina convencional com terapias alternativas, o que inclui a acupuntura, disse o Dr. Ahadian aos presentes no encontro.

Ela pode ser cada vez mais importante devido a dois “desafios críticos realmente importantes”: a crise dos opioides e o envelhecimento da população.

“A epidemia de opioides está em curso há duas décadas e não se vislumbra um fim. E não acredito que acordamos para as implicações que o envelhecimento da população tem para a prevalência de dor crônica”.

Durante a apresentação o Dr. Ahadian revisou parte da extensa literatura sobre acupuntura para dor crônica. Entre 1997 e 2010, mais de 600 estudos clínicos relacionados foram publicados.

Uma revisão recente, que o Dr. Ahadian descreveu como “uma das análises mais academicamente rigorosas”, foi financiada independentemente pelo National Institute for Health Research, no Reino Unido.

Após triar quase 1000 publicações, os pesquisadores selecionaram 29 dos ensaios clínicos randomizados controlados de maior qualidade. Os estudos compararam acupuntura verdadeira com acupuntura simulada (agulha que não penetrou na pele ou agulha nos pontos errados) ou ausência de acupuntura (tratamento médico padrão) em quase 18 mil pacientes.

Os autores realizaram uma meta-análise individual de dados de pacientes, que o Dr. Ahadian disse ser “única” para esse tipo de pesquisa.

“Em vez de 29 pontos de dados, eles realmente tinham quase 18.000 pontos de dados, então foi um meio muito mais poderoso de coleta dados”.

A análise mostrou que a acupuntura foi estatisticamente superior tanto à acupuntura simulada quanto à não realização de acupuntura em várias condições que cursam com dor, incluindo dor cervical e lombar, osteoartrite (OA) do joelho, cefaleia e migrânea (todos os P para o efeito geral = 0,001).

O tamanho do efeito para a acupuntura simulada foi “um pouco menor” do que para a não realização de acupuntura, disse o Dr. Ahadian.

“Isso ressalta o poderoso efeito do placebo associado a qualquer tipo de modalidade física, incluindo a acupuntura”, afirmou. Ele acrescentou que isso apresenta “desafios para a pesquisa de acupuntura”.

A análise também confirmou que a acupuntura teve “efeitos clinicamente significativos, o que é importante”, disse o Dr. Ahadian.

Resultados clinicamente significativos

Outras pesquisas já mostraram que a acupuntura aumenta a conectividade funcional.

“A dor crônica pode levar a padrões anormais ou a desregulação da conectividade funcional em vários centros cerebrais”, explicou o Dr. Ahadian. Ele acrescentou que a acupuntura “pode ajudar a modular e a normalizar” a conectividade funcional.

Ele destacou outro estudo que incluiu pacientes com OA do joelho, de moderada a grave, que nunca haviam realizado acupuntura e não haviam realizado nenhuma intervenção nos últimos seis meses. Os pacientes foram aleatoriamente designados para receber acupuntura verdadeira ou acupuntura simulada.

Cada participante recebeu seis tratamentos em um período de um mês. Eles também foram submetidos a ressonância magnética funcional.

Usando uma escala validada, a pontuação de desfechos em lesão e OA do joelho (sigla em inglês, KOOS), os pesquisadores descobriram que a interação entre grupos (real em relação a simulada) e tempo (início do estudo em relação ao desfecho) foi significativa para as pontuações da subescala KOOSpara dor (P = 0,025), função em esporte (P = 0,049) e qualidade de vida (P = 0,039).

A análise demonstrou melhorias estatisticamente significativas na conectividade funcional na rede frontal parietal direita e na rede de controle executivo, “que são os centros cerebrais que se acredita desempenharem um papel significativo no processamento da dor”, disse o Dr. Ahadian.

Ao mesmo tempo, houve uma redução na conectividade da rede motor sensorial, disse ele. “Estes são padrões esperados com o melhor controle da dor”.

Os resultados foram clinicamente significativos, observou o Dr. Ahadian. O estudo descobriu que após o tratamento, o aumento da conectividade funcional foi correlacionado positivamente com as alterações nos escores de dor de KOOS.

Na medicina tradicional chinesa, acredita-se que dor e doença são causadas por uma obstrução ao fluxo normal de qi (energia vital). Pode ser que a conectividade funcional esteja relacionada com o qi, disse o Dr. Ahadian.

“Será que, quando falamos sobre a remoção essas obstruções, o que estamos falando é na verdade melhorar a conectividade funcional?”

O Dr. Ahadian enfatizou que encontrar terapias alternativas eficazes para tratar a dor crônica é cada vez mais importante em uma era caracterizada por aumento significativo de mortes relacionadas a opioides. Em 2015, houve 33.091 casos no Estados Unidos, disse ele.

Outro fator que deve estimular a pesquisa de terapias efetivas para dor é o aumento da população idosa. A porcentagem daqueles com idade igual ou superior a 65 anos foi de 13% em 2012, mas espera-se que aumente para 20% em 2050. A incidência de dor crônica aumenta com a idade.

Treinamento

Ao abordar uma pergunta de um membro da audiência sobre treinamento, o Dr. Ahadian fez referência à American Academy of Medical Acupuncture (AAMA), a sociedade profissional de médicos que incorporaram a acupuntura na prática clínica.

De acordo com o site da AAMA, os requisitos de adesão foram estabelecidos de acordo com as diretrizes de treinamento criadas pela Federação Mundial de Sociedades de Acupuntura-Moxabustão reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Outros membros ficaram curiosos sobre o número ótimo de tratamentos de acupuntura e tempos de resposta.

Enquanto alguns especialistas aconselham aos pacientes que eles precisam realizar até 20 sessões para saber se o tratamento está funcionando, “na minha experiência, se não for observada alguma resposta positiva dentro de cerca de quatro ou cinco sessões, talvez seja necessário pensar duas vezes” disse o dr. Ahadian.

Ele observou que “nem todo mundo responde bem à acupuntura”.

Alguns fatores podem reduzir a “capacidade de resposta à acupuntura. A acupuntura depende de um sistema nervoso intacto para promover seu efeito, portanto, se os pacientes tiverem neuropatia periférica significativa ou outras neuropatias, podem não ser tão responsivos”, disse ele.

Uma vez que os pacientes respondem, o Dr. Ahadian disse que tenta aumentar o intervalo entre tratamentos enquanto mantém os resultados.

“Nosso objetivo na medicina não é ‘casar’ o paciente com nosso consultório e fazê-los consultar o tempo todo”, disse ele.

“Se eu não conseguir uma eficácia persistente, ou uma eficácia razoável, que dure um mês, então eu posso desaconselhar ou talvez precise descobrir como mudar minha terapia”.

Em um discurso em outro local do encontro da AIPM, o coronel aposentado do Exército dos EUA, Gregory D. Gadson, que perdeu as duas pernas devido à explosão de uma bomba, enquanto ele servia em Bagdá, em 2007, e agora sofre de dor crônica, disse que ainda recebe ocasionalmente “acupuntura de campo de batalha”.

Quando perguntado pelo Medscape sobre “acupuntura de campo de batalha”, o Dr. Ahadian explicou que a modalidade envolve uma breve sessão usando agulhas pequenas na pele da orelha, para bloquear a dor. O tratamento pode ser administrado em apenas cinco minutos, e está sendo usado para tratar membros feridos do exército dos EUA.

Dr. Ahadian relatou que recebe apoio de pesquisa como pesquisador principal de Boston Scientific e Mainstay Medical.

28º Encontro Anual da Academy of Integrative Pain Management (AIPM). Apresentado em 22 de outubro de 2017.