Dr. John Jeffrey Carr

Mesmo pequenos depósitos de cálcio nas artérias coronárias indicam risco de doença coronariana em adultos jovens: CARDIA

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Larry Hand

 

Nashville, Tennessee – A presença de qualquer depósito de cálcio nas artérias coronárias em pessoas entre 32 e 45 anos de idade, mesmo em pequena quantidade, prevê eventos de doença coronariana e mortalidade por todas as causas mais tarde na vida, sugere uma nova pesquisa.[1]

“Mesmo com quantidades muito pequenas de depósitos de cálcio nas artérias coronárias, ou o que eu chamaria de aterosclerose coronária prematura, as pessoas correm um risco muito elevado de eventos clínicos e morte cardiovascular nos próximos 10 a 15 anos, disse ao Medscape o primeiro autor Dr. John Jeffrey Carr (Vanderbilt University).

Em um editorial acompanhando o artigo de Dr. Carr e colaboradores[2], os Drs. Ron Blankstein (Hospital Brigham and Women, Boston, Massasuchetts) e Philip Greenland (Northwestern University Feinberg School of Medicine, Chicago, Illinois) escreveram: “Os resultados (…) levantaram a questão de se há algum papel para a triagem de pessoas com menos de 45 anos, por meio de tomografia computadorizada, para o diagnóstico de depósito de cálcio nas artérias coronárias”.

Dr. Carr e colaboradores analisaram dados do estudo Coronary Artery Risk Development in Young Adults (CARDIA), no qual foram incluídos 5.115 homens e mulheres negros e brancos com 18 a 30 anos, entre março de 1985 e junho de 1986, em quatro cidades norte-americanas. Durante o estudo, os pesquisadores realizaram exames nos participantes vivos nos seguintes anos do estudo: 15º (2000-2001), 20º (2005-2006) e 25º (2010-2011).

Os pesquisadores mediram os depósitos de cálcio nas artérias coronárias por meio da tomografia computadorizada sem contraste em uma coorte de 3.980 participantes submetidos a este exame de imagem, comparando-os com os 1.135 que não fizeram o exame. Eles acompanharam durante uma mediana de 12,5 anos, desde a tomografia computadorizada realizada no 15º ano do estudo até o final de agosto de 2014, de acordo com o artigo publicado on-line em 08 de fevereiro de 2017 no periódico JAMA Cardiology.

Os pesquisadores criaram um modelo de pontuação do depósito de cálcio nas artérias coronárias “com base em idade, raça/etnia, sexo, escolaridade, centro do estudo, tabagismo, níveis de LDL, índice de massa corporal, pressão arterial sistólica, diagnóstico de diabetes e uso de medicamentos para hipertensão arterial sistêmica e controle lipídico”, escrevem os pesquisadores.

Dr. Carr e colaboradores fizeram um modelo dos fatores de risco dos participantes aos 30 anos e puderam prever com precisão razoável quem iria ter doença coronariana nos próximos 10 a 15 anos, disse ele.

Os pesquisadores mediram a pontuação do depósito de cálcio nas artérias coronárias de 3.043 participantes no 15º ano, 3.141 no 20º ano e 3.189 no 25º ano. A média de idade dos pacientes foi de 40,3, 45,3 e 50,1 anos, respectivamente.

No geral, os pesquisadores descobriram a incidência de depósito de cálcio nas artérias coronárias em 10 anos entre o 15º e o 25º anos como sendo de 488 entre 2.209 (22,1%) participantes. Eles descobriram uma prevalência de depósito de cálcio nas artérias coronárias de 10,2% (309 de 3.043) no 15º ano, 20,1% (631 de 3.141) no 20º ano e 28,4% (907 de 3.189) no 25º ano.

Os pesquisadores descobriram que a hazard ratio ajustada (aHR) foi igual a 5,0 (intervalo de confiança, IC, de 95% de 2,8 a 8,7; P < 0,001) para doença coronariana, em comparação aos participantes sem depósito de cálcio nas artérias coronárias. Eles também constataram que a densidade da incidência foi:

  • 4,8 eventos por 100 pessoas com uma pontuação de depósito de cálcio nas artérias coronárias de 1 a 19 (HR = 2,6; IC de 95% de 1,0 a 5,7; P = 0,03).
  • 10,6 eventos por 100 pessoas com uma pontuação de depósito de cálcio nas artérias coronárias de 20 a 99 (HR = 5,8; IC de 95% de 2,6 a 12,1; P < 0,001).
  • 26,1 eventos por 100 pessoas com uma pontuação de depósito de cálcio nas artérias coronárias igual ou maior que 100 (HR = 9,8; IC de 95% de 4,5 a 20,5; P < 0,001).

Os pesquisadores também descobriram que a presença de qualquer depósito de cálcio nas artérias coronárias determinava uma densidade de incidência de 8,1 de morte por todas as causas por 100 pessoas durante o acompanhamento (HR = 1,6; IC de 95% de 1,0 a 2,6; P = 0,05), mas a densidade da incidência aumentou para 22,4 mortes para os indivíduos com pontuações de depósito de cálcio nas artérias coronárias iguais ou superiores a 100 (HR = 3,7; IC de 95% de 1,5 a 10,0; P < 0,001).

“O que este estudo acrescenta é que nas pessoas que possam estar sob maior risco, o depósito de cálcio nas artérias coronárias constitui um marcador biológico muito específico para identificar aquelas com 10% a 25% de risco de apresentar um evento clínico em 10 a 15 anos”, disse o Dr. Carr  ao Medscape.

Dr. Carr disse que ele e seus colaboradores não recomendam que todos os adultos jovens façam uma tomografia computadorizada.

“Muitas pessoas fazem tomografia computadorizada por outras indicações”, disse ele, podemos verificar nesses exames os níveis de depósito de cálcio nas artérias coronárias.

“Se, por exemplo, uma jovem de 25 anos de idade tiver calcificação da artéria coronária, isso deve ser identificado como um marcador biológico de risco, e devemos orientar, ela e seu médico, sobre este risco elevado para que, a seguir, eles possam fazer uma avaliação dos fatores de risco dela e determinar quais medidas podem ser tomadas para reduzir este risco”, disse ele.

“Atualmente vamos usar os fatores de risco tradicionais para calcular uma das várias pontuações, como a escala de risco de Framingham ou a equação de dados de risco agrupados de coortes, com as quais podemos prever o risco de doença cardíaca de uma pessoa em 10 anos”, disse ele.

“A estratégia atual, baseada na quantidade de aumento do risco, é aumentar a intensidade de nossas atividades de prevenção. Devemos corresponder a prevenção que adotarmos ao risco individual do paciente”, disse ele.

“Infelizmente”, acrescentou, “para estes modelos de risco, como os depósitos de cálcio nas artérias coronárias, não temos nenhum estudo controlado randomizado mostrando que medir o risco de alguém e relacionar com o tratamento reduza a ocorrência dos eventos cardíacos”.

As diretrizes atuais incluem o rastreamento do depósito de cálcio nas artérias coronárias como uma opção para as pessoas cujo risco é incerto, com limiares de pontuação de depósito de cálcio nas artérias coronárias de 100, 300 e 400.

“No entanto”, escrevem os pesquisadores, “à luz de nossas descobertas, estas recomendações poderiam ser reconsideradas em favor de limites mais baixos para os adultos jovens e de meia-idade”.

O National Heart, Lung, and Blood Institute financiou esta pesquisa. Os autores informaram não possuir conflitos de interesse relevantes.