Recomendações preliminares da US Preventive Services Task Force (USPSTF), uma força-tarefa de pesquisadores de medicina preventiva financiada pelo governo dos EUA, dizem que as evidências existentes são insuficientes para avaliar o equilíbrio de benefícios e danos da realização de exames pélvicos para detecção de condições ginecológicas em mulheres assintomáticas não grávidas com 18 anos ou mais.
A força-tarefa conduziu a primeira avaliação de evidências sobre essa prática e publicou suas recomendações e revisão preliminar das evidências em 28 de junho. “Triagem para Condições Ginecológicas com Exame Pélvico” classifica os dados das evidências como “I” (insuficientes para criar uma recomendação contra ou a favor da triagem). A força tarefa postou essas recomendações, assim como sua primeira revisão de evidências sobre essa prática, em seu website, e solicita opinião pública (em inglês) até 25 de julho.
Em 2010, mais de 60 milhões de exames pélvicos foram realizados nos Estados Unidos, de acordo com as recomendações, e embora eles sejam realizados frequentemente como parte do exame físico geral, sua utilidade em mulheres assintomáticas não está clara. Nessa revisão sistemática de evidências, a força-tarefa não encontrou estudos avaliando o benefício do exame pélvico de triagem na mortalidade por todas as causas, morbidade ou mortalidade doença específica, ou qualidade de vida.
“Mulheres com sintomas ginecológicos ou preocupações sobre sua saúde reprodutiva deveriam discuti-los com seus médicos”, disse a Dra. Maureen G. Phipps, membro da força- tarefa e chefe do departamento de obstetrícia e ginecologica da Alpert Medical School, Brown University, Providence, Rhode Island, em um comunicado à impressa da força-tarefa. “Não existem evidências suficientes para determinar a realização do exame pélvico de triagem em mulheres assintomáticas para outras condições além de triagem do câncer de colo de útero, gonorreia e clamídia”.
A força-tarefa elaborou recomendações separadas para a triagem dessas três doenças, utilizando testes que são geralmente usados durante o exame pélvico, como o Papanicolaou, o teste para HPV, e exames de amplificação de ácidos nucleicos. Foi determinado que a recomendação atual tem como alvo exclusivo os exames pélvicos realizados para outras condições ginecológicas.
Quanto aos danos relacionados à triagem, a síntese encontrou evidências insuficientes para a maioria das condições ginecológicas. No câncer de ovário, quatro estudos de acurácia diagnóstica reportaram taxas de falsos positivos de 1,2% a 8,7%, e taxas de falso negativos de 0% a 100%. As taxas de cirurgias resultantes de exames pélvicos com alguma alteração foram de 5% a 36% em um ano, com o maior estudo relatando uma taxa de cirurgia de 11% e uma taxa de complicações de 1% dentro de um ano após os achados ovarianos alterados ao exame pélvico.
Além disso, a baixa prevalência de câncer de ovário na população em geral resultou em baixos valores preditivos positivos: em mais de 26.000 pacientes triadas em quatro estudos, mais de 96% dos resultados positivos eram falsos positivos, relatam os autores.
Pouquíssimos estudos relataram taxas de falso positivo e falso negativo para a ampla variação de condições ginecológicas, e nenhum quantificou a ansiedade da paciente ou outros danos psicológicos relacionados ao exame pélvico de triagem. A precisão diagnóstica foi avaliada em três outras condições: vaginose bacteriana (dois estudos), tricomoníase (um estudo) e herpes genital (um estudo). Esses estudos foram realizados em populações de alta prevalência com grandes proporções de pacientes sintomáticas, o que limita as conclusões sobre o valor da triagem.
“Faltam evidências e elas são de má qualidade, e o balanço entre benefícios e danos não pode ser determinado”, escrevem os autores.
Eles observam alguma discrepância nas diretrizes de prática atuais, entre generalistas e especialistas. Embora as recomendações do American College of Physicians e da American Academy of Family Physicians orientem contra o exame pélvico de triagem em mulheres adultas assintomáticas não grávidas, o American College of Obstetricians and Gynecologists apoia o exame pélvico anual para todas as mulheres, a partir de 21 anos de idade.
“A força-tarefa solicita que mais pesquisas sejam realizadas para melhor entendimento dos benefícios e danos da realização de exames pélvicos de triagem em mulheres sem queixas ou sintomas”, disse o membro da força-tarefa Dr. Francisco García, professor de saúde pública, ginecologista e obstetra na University of Arizona em Tucson, Arizona, no comunicado à imprensa.
Em uma declaração, o Dr. Thomas Gellhaus, presidente do American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), disse: “Como grupo líder de médicos que cuidam da saúde das mulheres no país, a ACOG orienta que as mulheres deveriam ver seus ginecologistas e obstetras pelo menos uma vez ao ano. Além das triagens, avaliações e aconselhamentos que os médicos podem fornecer, a consulta anual da mulher é uma oportunidade para que a paciente e seu ginecologista discutam se um exame pélvico é apropriado para ela”.
Ele continuou: “A ACOG está revisando a publicação das recomendações da USPSTF e as evidências nas quais foi baseada para avaliar se existe a necessidade de atualizar seu guia sobre exame pélvico de rotina. A ACOG recomenda exames pélvicos anuais para pacientes com 21 anos de idade ou mais. No entanto, nós reconhecemos que essa recomendação é baseada na opinião de especialistas, e que as limitações do exame pélvico interno para a triagem deveriam ser reconhecidas”.
Os autores não declararam relações financeiras relevantes.