12 #emergências urológicas que você precisa conhecer

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Josh Palka 

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A imagem da esquerda mostra uma torção testicular em um homem de 17 anos que se apresentou com uma história de 72 horas de dor escrotal. Observe o edema e a elevação do testículo esquerdo com posicionamento transverso anormal. A imagem da direita é uma fotografia intraoperatória obtida após a distorção em um outro paciente.

Médicos em qualquer contexto, mas especialmente no pronto-socorro (PS), podem encontrar condições urológicas graves que requerem diagnóstico urgente e tratamento precoce para evitar complicações graves ou que ameacem a vida. Revise os pontos principais sobre diagnóstico e tratamento de 12 emergências urológicas.

Slides 2

Essas imagens mostram duas visões do pênis de um paciente com parafimose, na qual o prepúcio comprime/estrangula a glande.

Parafimose

A parafimose se dá quando o prepúcio do paciente é retraído para atrás da glande, e não é possível colocá-lo de volta na posição ortotópica.[1,2] Como mostrado nas imagens acima, o prepúcio retraído se torna edemaciado, causando uma distensão patognomônica com aspecto de bexiga por trás da glande, particularmente se o prepúcio for retraído por um período prolongado.

O diagnóstico de parafimose pode ser difícil em pacientes idosos ou com demência, que podem ser incapazes de perceber a dor que ocorre nessa condição.[1] Se o prepúcio não for reduzido, aumenta o risco de necrose peniana.

Imagens: cortesia Konan PG, Vodi CC, Dekou AH, Fofana A, Gowe EE, Manzan K. BMC Urol. 2015;15:112. [Acesso livre] PMID: 26572222, PMCID: PMC4647508.

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O primeiro passo para reduzir uma parafimose é remover o edema associado.[1,2] Isso pode ser obtido por meio de uma pressão firme comprimindo a glande (de distal para proximal). Se o paciente não puder tolerar a dor, podem ser fornecidos analgésicos orais (VO) ou intravenosos (IV), ou pode ser realizado um bloqueio peniano.

Uma vez que o edema diminui, posicione os dois polegares sobre a glande (na posição 1 na imagem à esquerda), com o segundo e terceiro dedos atrás do prepúcio retraído (na posição 2).[1,2] Então, aplique força com os polegares enquanto realiza a retração concomitante com o segundo e terceiro dedos para reduzir o prepúcio. O uso de gaze pode evitar um deslizamento.

Diagrama: cortesia Josh Palka (esquerda); fotografia de parafimose com quatro dias de duração em um paciente diabético de 45 anos, da Wikimedia Commons/Drvgaikwad (direita).

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Se com a técnica manual descrita no slide prévio não houver sucesso na redução do prepúcio, uma intervenção cirúrgica adicional, incluindo a realização de uma fenda dorsal, pode ser necessária.[1,2] Caso ocorra lesão da derme durante a redução do prepúcio, ou se o paciente for imunocomprometido, diabético, ou usuário pesado de álcool, pode haver maior risco de infecção e, potencialmente, de gangrena de Fournier, uma infecção gangrenosa da genitália rapidamente progressiva e potencialmente fatal.[1] Observação atenta deve ser considerada nesses pacientes.

Para mais informações sobre parafimose e fimose veja os artigos do Medscape Drugs & Diseases Fimose e parafimose, Procedimentos de redução da parafimose (fotografias com passo a passo e vídeo de redução manual), e Fenda dorsal do prepúcio.

Adaptado de imagem cortesia de Medscape/Sam Shlomo Spaeth.

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Priapismo

A American Urological Association (AUA) define priapismo como “uma ereção peniana persistente que continua por horas após o estímulo sexual, ou não está relacionada a ele” e que dura mais de quatro horas.[3] Existem muitos fatores predisponentes para o priapismo, mas a maioria é idiopática ou relacionada a medicamentos (injeções intracavernosas, trazadona, cocaína), ou envolve pacientes com doença falciforme ou malignidades hematológicas. Os objetivos do tratamento do priapismo são a detumescência, a preservação da função erétil e a prevenção de eventos futuros.[3]

Existem dois tipos de priapismo. O priapismo isquêmico (baixo fluxo) é mais comum, e envolve a redução ou a falta de fluxo sanguíneo cavernoso e gasometria de sangue cavernoso anormal. O priapismo não isquêmico (alto fluxo) consiste de uma falta de regulação do fluxo arterial cavernoso.[3,4] O priapismo isquêmico se apresenta com um corpo peniano rígido e doloroso, mas uma glande macia e esponjosa, enquanto o tipo não isquêmico pode ser assintomático, sendo geralmente precedido por trauma, podendo se resolver espontaneamente, e não requerendo tratamento urgente.[3,4]

Se a avaliação e o tratamento precoces do priapismo isquêmico se derem dentro de 24 horas, até 50% dos pacientes podem evoluir com disfunção erétil.[5,6] No entanto, se o priapismo persistir por mais de 24 horas, de 50% a 90% dos pacientes desenvolvem disfunção erétil. Já com duração maior que 36 horas, a taxa de disfunção erétil é de quase 100%.[5]

Adaptado de imagem cortesia de Medscape.

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O primeiro estágio do tratamento do priapismo isquêmico é aspiração e irrigação corporal. O sangue deve ser aspirado do corpo do pênis com uma agulha 18G ou 19G inserida nas posições de 3 e 9 horas. Salina estéril pode ajudar a diluir o sangue e coágulos. Se esse procedimento não for eficiente, pode ser usada a injeção intracavernosa de fenilefrina, diluída a uma concentração de 100 a 500 mcg/ml.[3] Injete 1,0 ml da solução a cada 3-5 minutos até alcançar a detumescência. Se o priapismo persistir, um shunt cirúrgico distal deve ser colocado.[3]

Tenha cautela ao injetar a fenilefrina, incluindo o monitoramento da pressão arterial e pulso do paciente, particularmente em indivíduos com doença cardiovascular (use monitoramento eletrocardiográfico). Evite injeções de fenilefrina em pacientes com pressão arterial mal controlada ou naqueles em uso de inibidores de monoamino oxidase.

 

Imagem: cortesia Medscape.

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Essa imagem traz uma fratura peniana em um homem de 32 anos. Observe o edema, a equimose e o desvio do pênis (deformidade “em forma de berinjela”).

Trauma peniano

Fraturas penianas

Fraturas penianas acontecem quando o corpo cavernoso é rompido de forma traumática, comumente durante atividade sexual vigorosa, devido ao deslizamento do pênis e choque contra o períneo ou osso púbico do parceiro.[7,8] Pacientes geralmente relatam um “estalo” audível, dor e detumescência imediata (devido ao rompimento da túnica albugínea).

Em aproximadamente 10% a 20% dos casos de fratura peniana, ocorre ruptura concomitante da uretra.[7,8] Se houver sangramento evidente pelo meato, dificuldade de micção ou hematúria macroscópica, deve ser considerada lesão uretral concomitante.

Imagem: Ozcan S, Akpinar E. Cases J. 2009;2:8065. [Acesso livre] PMID: 19830047, PMCID: PMC2740298.

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Essa imagem é outro exemplo de deformidade em forma de berinjela em um paciente com fratura peniana.

Fraturas penianas frequentemente se manifestam como uma “deformidade em forma de berinjela”, na qual um hematoma se forma entre a pele e a túnica albugínea.[7,8] Se o diagnóstico é incerto, exames de ultrassonografia ou ressonância nuclear magnética (RNM) peniana podem ser realizados para descartar fratura peniana.

Exploração cirúrgica imediata e reparo do corpo cavernoso rompido reduzem a curvatura peniana, melhoram o tempo de recuperação e diminuem a morbidade (por exemplo, ereção dolorosa ou disfunção erétil).[7,8]

Imagem: cortesia Medscape.

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Essa fotografia intraoperatória demonstra uma amputação peniana no estágio inicial de reimplantação.

Amputação peniana

A amputação peniana, na qual o pênis é parcialmente ou totalmente cortado, ocorre geralmente devido a automutilação.[8,9] Entre 65% e 87% dos pacientes com amputação peniana apresentam psicose aguda.[8]

Devem ser feitas tentativas de localizar, limpar e preservar a porção removida com técnicas “sacos duplos”.[8,9] Irrigue a porção amputada com solução salina, envolva em gaze umedecida em salina e sele em um saco plástico estéril. Coloque o saco em um segundo saco externo com gelo. Esse sistema de sacos duplos é usado para prevenir lesão hipotérmica da porção amputada por contato direto com gelo.[8,9]

Imagem: cortesia Medscape.

Slides 10

Essa imagem intraoperatória mostra a reimplantação após amputação peniana no mesmo paciente discutido no slide prévio.

O tratamento preferencial de amputações penianas é encaminhar o paciente para um centro com capacidade para microcirurgia, se possível.[8-10] O reparo microvascular da artéria, veia e nervo dorsal pode levar a até 80% de recuperação da sensibilidade peniana, com permanência da função erétil em até 50% dos pacientes.[8]

O reparo macrovascular pode ser realizado se a microcirurgia não estiver disponível; no entanto, a sensibilidade peniana após o procedimento varia de nenhuma a 10%, com resultados para função erétil semelhantes aos alcançados com reparo microvascular.[8]

 

Imagem: cortesia Medscape.

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Essa fotografia foi obtida após um debridamento cirúrgico agressivo de inserção de colostomia em um paciente com 48 anos com adenocarcinoma retal extenso que se apresentou como gangrena de Fournier.

Gangrena de Fournier

A gangrena de Fournier é uma fasciíte necrotizante infecciosa das regiões perineal, genital ou perianal.[11] Essa infecção polimicrobiana é causada por Escherichia coli, espécies de Bacterioides, Streptococcus pyogenes, e Staphylococcus aureus, bem como outros patógenos. Pacientes particularmente suscetíveis incluem aqueles com diabetes, alcoolismo ou outras condições com imunocomprometimento.[11]

Um marcador da gangrena de Fournier é a rápida progressão de celulite para fasciíte necrotizante, que pode se espalhar por planos fasciais,[11] como mostrado nas imagens acima.

Imagem: Moslemi MK, Sadighi Gilani MA, Moslemi AA, Arabshahi A. Cases J. 2009; 2:9126. [Acesso livre] PMID: 20062653, PMCID: PMC2803933.

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Essas imagens foram obtidas de um paciente diabético com gangrena de Fournier. Ele apresentou escroto edemaciado e enfisematoso com crepitações cutâneas e um pequeno círculo de necrose. A imagem à esquerda mostra os testículos após debridamento cirúrgico do escroto. A imagem à direita revela a ferida no momento da alta do paciente.

Em geral, pacientes com gangrena de Fournier apresentam infecção da região genital e dor que é desproporcional ao exame físico.[11,12] Adicionalmente, uma tonalidade acinzentada dos tecidos, odor fétido e crepitação palpável podem ser observados na avaliação, significando ar nos tecidos.

O tratamento inclui a administração de antibióticos de amplo espectro e debridamento cirúrgico agressivo do tecido necrótico.[11,12] A maioria dos casos requer uma segunda ou terceira abordagem dentro de 24-48 horas depois do debridamento inicial. Apesar do tratamento agressivo moderno, a mortalidade associada a essa condição permanece entre 15% e 50%.[13-14]

 

Imagens: Pastore AL, Palieschi G, Ripoli A, et al. J Med Case Rep. 2013;7:1. [Acesso livre] PMID: 23286211, PMCID: PMC3572430

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Essa uretrografia retrógrada revela ruptura completa da uretra em um paciente vítima de trauma.

Lesões uretrais

Lesões uretrais envolvem rompimento parcial ou completo da uretra e são categorizadas como anterior ou posterior, com a última quase sempre ocorrendo no contexto de fraturas traumáticas da pelve.[15] Médicos devem suspeitar de lesão uretral em pacientes vítimas de trauma que apresentam sangue no meato uretral, hematoma genital/perineal, fratura peniana, lesão peniana penetrante, próstata elevada no exame retal digital, fratura pélvica, incapacidade de urinar, e/ou bexiga distendida.

Antes da inserção de uma sonda vesical em pacientes com os cenários acima, realize uma uretrografia retrógada com o uso de um cateter de Foley de 12 French inserido em aproximadamente 1 cm na uretra, com 1 ml de salina no balão e instilação de 20ml de contraste.[15]

Imagem: cortesia Medscape.

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Um paciente de 42 anos apresentou uma fratura peniana com ruptura uretral que foi reparada. A imagem pré-operatória à esquerda mostra edema e desvio do pênis. A imagem intraoperatória à direita revela uma fenda cavernosa à direita e ruptura uretral (uma sonda de Foley está posicionada na uretra).

O objetivo da terapia em pacientes com lesão uretral é drenagem da urina, seja com inserção de cateter suprapúbico ou, em centros com urologistas experientes em reparo uretral, alinhamento primário em pacientes hemodinamicamente estáveis.[15] Por no mínimo um ano após a lesão, o paciente precisa ser monitorado quanto a complicações como estenose uretral ou incontinência urinária.

Lesões penetrantes na uretra por uma arma de baixa velocidade (por exemplo, faca, armas manuais) são geralmente tratadas com reparo primário sem debridamento extenso.[8] Lesões uretrais por armas de alta velocidade (por exemplo, rifle de assalto) com lesão explosiva devem ser tratadas com drenagem urinária por inserção de cateter suprapúbico. O reparo uretral deve ser adiado pelo potencial de que a explosão cause lesão tardia na uretra, assim como para evitar complicações como hemorragia, disfunção erétil e incontinência.[8,16]

 

Imagens: Boncher NA, Vricella GJ, Jankowski JT, Ponsky LE, Cherullo EE. Case Rep Med. 2010;2010:791948. [Acesso Livre] PMID: 21076536, PMCID: PMC2975082.

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As ultrassonografias com Doppler em escala de cinza (esquerda) e colorida (direita) são uma comparação entre um testículo normal (linha superior) e um testículo com torção (linha inferior). Linha superior, testículo normal: o testículo tem ecotextura e contorno testicular homogêneos (imagens da direita e esquerda) e um bom sinal de fluxo sanguíneo intratesticular (imagem à direita). Linha inferior, testículo com torção: O testículo está edemaciado e torcido, com uma ecotextura heterogênea (imagens da direita e esquerda); não há sinal de fluxo sanguíneo no testículo com torção (imagem à direita).

Emergências testiculares

Torção testicular

A torção testicular é uma emergência cirúrgica, requerendo pronta intervenção dentro de seis horas da apresentação dos sintomas para evitar perda da viabilidade testicular.[17] Estima-se que essa condição afete cerca de 3,8 por cada 100.000 homens com menos de 18 anos nos EUA, com 80% dos pacientes apresentando torções bilaterais. Cerca de 42% das torções testiculares resultam em orquiectomia;[17] assim, a rápida avaliação e o tratamento são críticos. O diagnóstico de torção testicular é feito clinicamente, embora a ultrassonografia escrotal com Doppler possa ser diagnóstica. Não realize exames de imagem se isso for atrasar a exploração cirúrgica.

Se a torção for confirmada no intraoperatório e o testículo estiver viável, deve ser realizada uma orquipexia bilateral.[17] Um testículo não viável deve ser submetido a orquiectomia ipsilateral e orquiopexia contralateral. Se uma sala de cirurgia não estiver disponível imediatamente, a distorção manual pode ser tentada no PS com rotação externa do testículo (técnica “abrindo um livro”). No entanto, a exploração cirúrgica precisa ser realizada o mais breve possível.[17]

Imagens: Sun Z, Xie M, Xiang F, et al. PLoS One. 2015;10(9):e0138523. [Acesso livre] PMID: 26382244, PMCID: PMC4575189.

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Essa ultrassonografia de escroto pertence a um jovem de 13 anos que procurou o pronto-socorro com apresentação aguda de dor no testículo esquerdo que o despertou e foi imediatamente acompanhada de náuseas e vômitos.

Ao exame, o paciente não tinha reflexo cremastérico, e o testículo esquerdo estava em posição anormal. A ultrassonografia com Doppler do escroto (imagem) no PS revelou ausência de fluxo no testículo esquerdo. O paciente foi levado emergencialmente para o centro cirúrgico onde uma torção de 720° foi identificada e desfeita, seguida de orquiopexia bilateral. Ele evoluiu bem no pós-operatório.

Imagem: cortesia Josh Palka.

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A ultrassonografia escrotal à esquerda mostra um testículo normal. A ultrassonografia escrotal à direita revela um testículo fraturado com lesão da túnica albugínea, assim como dos conteúdos testiculares envoltos pela túnica vaginal.

Ruptura testicular

A ruptura testicular ocorre quando uma lesão causa uma ruptura da túnica albugínea.[8] Cerca de 75% das lesões testiculares são bruscas; a ruptura testicular deve ser considerada em todos os casos de lesões bruscas da virilha, pois os sinais externos de equimose e edema não se correlacionam bem com a lesão real.[8] Em casos duvidosos, realizar ultrassonografia testicular para excluir ruptura.

Imagem: cortesia Medscape.

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Essas ultrassonografias foram obtidas de um paciente de 20 anos de idade com história de um dia de aumento doloroso do hemiescroto direito após trauma escrotal à direita que ocorreu enquanto ele jogava futebol. Imagem A: a ultrassonografia longitudinal mostra um contorno testicular indistinto (setas), um hematoma agudo intratesticular hiperecóico (H), e uma hematocele (asterisco). Imagem B: a ultrassonografia com Doppler colorido revela ausência de vascularização no hematoma intratesticular (H).

A exploração cirúrgica imediata com reparo da túnica albugínea é vital. As taxas de salvamento do testículo excedem 90% quando a exploração e o reparo ocorrem em até três dias da lesão.[8] Em contraste, o tratamento não cirúrgico frequentemente complica com infecção, e eventual orquiectomia – em taxas de três a oito vezes maiores que a intervenção cirúrgica.[8]

 

Imagens: Thinyu S, Muttarak M. Biomed Imaging Interv J. 2009;5(1):e2. [Acesso livre] PMID: 21611024, PMCID: PMC3097754.

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Essa tomografia computadorizada (TC) de abdome e pelve com contraste em um homem de 67 anos, pedestre, vítima de um acidente automobilístico, é uma de várias imagens obtidas quando ele chegou ao PS. Além de outros politraumatismos, essa imagem revela uma laceração renal grau IV, com penetração através do sistema coletor, e extravasamento ativo de contraste da região posterior do rim direito.

Lesão renal

O rim é o órgão do sistema genitourinário mais comumente lesado no trauma, predominantemente no trauma contuso (como ocorreu com o paciente descrito acima).[15] Hematúria pode ou não estar presente; no entanto, se presente, a gravidade dela não se correlaciona com a gravidade da lesão renal.

Em pacientes hemodinamicamente estáveis, a imagem preferencial é a TC de abdome e pelve com contraste VO e IV. Se o paciente necessitar de intervenção cirúrgica emergencial por outras lesões abdominais, uma pielografia IV obtida em centro cirúrgico é preferível, na qual um bolus de 2ml/kg de contraste IV é administrado, e uma imagem é obtida em 10 minutos.

Imagem: cortesia Josh Palka.

Slides 20

O paciente discutido no slide prévio desenvolveu um sangramento tardio e foi submetido a angiografia com embolização seletiva, como observado nessa imagem. Após o procedimento, não ocorreram novas complicações relacionadas ao trauma.

As lacerações renais são graduadas de 1, menos grave, a 5, mais grave. A American Association for the Surgery of Trauma (AAST) fornece uma tabela com a escala de lesão renal em: http://www.aast.org/library/traumatools/injuryscoringscales.aspx#kidney

A exploração cirúrgica deve ser imediata diante de lacerações renais grau V, um hematoma retroperitoneal em expansão ou pulsátil, ou uma hemorragia ameaçadora à vida de provável origem renal.[15,18] Lesões renais grau I-II podem ser monitoradas, enquanto aquelas classificadas como grau III-IV podem ser observadas se não houver outras lesões intraperitoniais.[18] Quase 20% das lesões grau III e IV podem evoluir para sangramento tardio, que é tratado por embolização angiográfica.

 

Imagem: cortesia Josh Palka.

Slides 21

Uma mulher de 74 anos consultou por apresentação aguda de dor em flanco direito, febre (40,8°C) e taquicardia. Resultados laboratoriais incluíram um nível de ácido lático de 7,8 mg/dl e 10-20 leucócitos por campo na urina com nitrito positivo. Uma TC de abdome e pelve sem contraste mostrou um cálculo obstrutivo de 6 mm no ureter direito (seta). A paciente foi submetida a descompressão de emergência com inserção de stent ureteral.

Cálculos ureterais obstrutivos

Em geral, a maioria dos cálculos são eliminados espontaneamente e não requerem intervenção.[19] No entanto, cálculos que causam obstrução renal podem resultar em dano irreversível ao rim se não tratados prontamente, particularmente no contexto de infecção.

As diretrizes conjuntas da AUS e da Endourological Society indicam que a presença de um cálculo obstrutivo em ureter e a suspeita de infecção requerem drenagem urgente do sistema coletor com uso de nefrostomia ou stent ureteral.[19] Além disso, o tratamento definitivo do cálculo deve ser adiado até que a terapia antimicrobiana esteja completa com resolução da sepse.

Imagem: cortesia Josh Palka.

Slides 22

Um homem de 70 anos com rim único devido a nefrectomia prévia por carcinoma de células renais se apresentou com queixa de surgimento agudo de dor em flanco direito. Uma TC de abdome e pelve sem contraste revelou um cálculo de 5 mm no ureter proximal direito (seta).

Em pacientes com rim único e cálculo obstrutivo é imperativo a realização de descompressão de emergência com inserção de um stent ureteral retrógrado ou tubo de nefrostomia percutânea, para evitar dano na unidade renal remanescente.[19]

 

Imagem: cortesia Josh Palka.

Slides 23

Essa imagem sagital foi obtida em um paciente com bexiga distendida que esteve envolvido em um acidente de trânsito. É possível observar extravasamento do meio de contraste da bexiga.

Lesão de bexiga

Lesões de bexiga geralmente ocorrem no contexto de trauma com fraturas pélvicas associadas (mais comum) ou de trauma contundente no abdome inferior quando a bexiga está distendida, como em acidentes automobilísticos quando o paciente está utilizando cinto de segurança.[15,20] As lesões de bexiga se manifestam como contusões, lesões extraperitoniais (60%), lesões intraperitoniais (30%), ou lesões mistas extraperitoniais e intraperitoniais (≤10%).[15,20] Apresentações comuns de lesão de bexiga incluem hematúria macroscópica, desconforto, dolorimento ou hematoma suprapúbico, e/ou incapacidade de urinar.[20]

O diagnóstico e o tratamento tardio de lesões de bexiga pode levar a ascite, íleo paralítico e ao aumento dos níveis séricos de ureia e creatinina. A imagem padrão para lesão de bexiga é uma cistografia retrógrada por radiografia simples ou TC, na qual a bexiga é preenchida com 300-350ml de contraste, e imagens pré e pós drenagem são obtidas.[15,20]

Imagem: cortesia Josh Palka.

Slides 24

Essas imagens foram obtidas de um homem de 56 anos que tentou suicídio golpeando o próprio abdome com uma agulha de costura de 15 cm. Imagem à esquerda: A radiografia revela a agulha se projetando na área da bexiga. Imagens à direita: Uma TC (alto) e cistografia (baixo) mostram ruptura da cúpula vesical. Extravasamento do meio de contraste e efusão peritoneal podem ser observadas; existe lesão potencial no ureter esquerdo na pelve.

Lesões intraperitoneais e/ou penetrantes requerem exploração cirúrgica e reparo em duas ou três camadas.[8,20] Lesões extraperitoneais podem ser tratadas de forma conservadora com uso de sonda de Foley – desde que não haja indicação de lesão do colo da bexiga, lesões vaginais/retais, presença de fragmentos ósseos dentro da bexiga ou presos na parede dela, e se a sonda estiver drenando adequadamente.[8,20]

Uma cistografia após duas ou três semanas da lesão ou da cirurgia deve ser obtida para avaliação da cicatrização e de extravasamento.[8] Se não for observado extravasamento e a cicatrização radiográfica for confirmada, a sonda de Foley ou cateter suprapúbico é removido. Se houver extravasamento, a imagem deve ser repetida semanalmente até que não seja identificado extravasamento.

 

Imagens: Kharbach Y, Tenkorang S, Ahsaini M, et al. J Med Case Rep. 2014;8:391. [Acesso livre] PMID: 25427575, PMCID: PMC4289258.

Slides 25

Essas imagens de TC do mesmo paciente mostram um abscesso prostático causando retenção urinária.

Retenção urinária aguda

A retenção urinária aguda é uma das condições mais frequentemente encontradas por urologistas. Os pacientes tipicamente se apresentam com dor suprapúbica grave ou dor abdominal baixa. O tratamento de emergência envolve primeiramente a descompressão e a drenagem da bexiga com cateterização uretral ou suprapúbica, e então tratamento da causa subjacente.[8,21,22] Se não tratada, podem surgir piora da função renal, infecção, disfunção vesical e insuficiência renal.[8,21,22]

Causas comuns de retenção urinária aguda incluem obstrução devido a hiperplasia prostática benigna (mais comum[22]) ou massas pélvicas e urogenitais; trauma uretral iatrogênico em tentativa de inserção de sonda de Foley ou cirurgia recente; medicamentos seletivos (por exemplo, anti-histamínicos, sedativos); estenoses uretrais e condições neurológicas, dentre outras.[8,21,22]

Imagens: Wikimedia Commons/Dr. James Heilman.

Slides 26

Ocasionalmente, não é possível inserir uma sonda de Foley, como em alguns pacientes com hiperplasia prostática benigna. Uma opção alternativa é tentar a cateterização com um cateter Coudé (imagem à esquerda).[23] A ponta curva/angulada do cateter de Coudé permite que ele passe por angulações anatômicas causadas por uma próstata aumentada. Oriente a via do balão no mesmo plano da ponta angulada;[23] isso permite ao clínico saber que, se a via do balão está para cima, a ponta também está para cima dentro do corpo.

Se a colocação de Foley ou Coudé não for possível, pode ser necessária uma cistoscopia para posicionamento da sonda, ou a inserção de um cateter suprapúbico (direita).

 

Imagens: cortesia Josh Palka (esquerda) e Wikimedia Commons/Dr. James Heilman (direita).


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Um comentário em “12 #emergências urológicas que você precisa conhecer

    Thomas disse:
    08/10/2017 às 13:11

    Great post! Have nice day ! 🙂 gplis

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